08 maio 2015

O PAPA SÃO PIO X E A GRANDE GUERRA - POPE SAINT PIUS X AND THE GREAT WAR


Archduke-Charles-Princess-Zita

No verão de 1911, durante uma audiência com a futura imperatriz austríaca Zita da casa real franco-italiana de Bourbon-Parma, o  Papa São Pio X  profetizou  o que viria ser o estopim que desencadearia o início da  Primeira Guerra Mundial. A princesa Zita acabara de tornar-se noiva do arquiduque Charles, futuro herdeiro do trono imperial da Áustria. Charles, que em 1911 era o segundo na linha sucessória do trono de seu tio-avô Franz Josef (Francisco José I da Áustria), que reinara sobre o Império austríaco desde 1848, não tinha pretensões ao trono.

O Papa Pio X, correspondendo à tradição européia dos Habsburgos, a família real de origem alemã que governou a Áustria do final do século XIII até 1918, recebeu e parabenizou a princesa pelas núpcias. Durante o diálogo com a princesa o Papa comentou: "Estou muito feliz com este casamento e espero muito dele para o futuro. Charles governará a Áustria e será ótimo para a Igreja". O Papa, intuitivamente, referiu-se ao futuro marido de Zita como o herdeiro do trono que, por direito sucessório, pertencia a Francisco Ferdinando.

Atônita, a jovem princesa Zita comentou gentilmente que seu futuro marido não era o herdeiro direto ao trono, pois ao seu tio, o predestinado Franz Ferdinand cujo assassinato seria o gatilho para a Grande Guerra, cabia este direito. Assim, São Pio X olhou serenamente para a princesa e insistiu que Charles em breve seria o imperador. Mas ela garantiu que Francisco Ferdinando certamente não abdicaria pois encontrava-se no auge da vida, com boa saúde. Ao que o Papa ponderadamente respondeu em voz baixa: "Se é uma abdicação, eu não sei".

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Na primavera de 1914, Pio X expressou ao seu secretário e confessor Don Giovanni Bressan a seguinte preocupação: "Estou pesaroso pelo próximo Papa, pois não vou viver para presenciar os acontecimentos e tragédias que abalarão o mundo e a Fé Cristã. Infelizmente, a verdade é que a "religio depopulata" chegará muito em breve. O termo "religião destruída" refere-se à Profecia dos Papas de São Malaquias, onde frases curtas e crípticas em latim definem os sucessores papais. Neste caso, o sucessor de São Pio X no trono de São Pedro foi o Papa Bento XV (1914–1922).

O Papa Pio X previu o despovoamento da Europa e, especialmente, como a Primeira Guerra Mundial afetaria as relações da Igreja Católica no cenário político-internacional. Muitos estrategistas geopolíticos e observadores de alto nível poderiam claramente vislumbrar algum tipo de guerra entre duas das seis grandes potências da Europa: Rússia, Grã-Bretanha, França, Áustria-Hungria, Itália e Alemanha, mas ninguém previu a eclosão de uma guerra mundial e a queda da civilização Cristã nos padrões tradicionais, exceto o profético Papa São Pio X.

O fato de Pio X ter previsto dois grandes acontecimentos que mudariam o mundo foi uma clara manifestação da sua intimidade com o Divino, que traduziu-se na sua preocupação paterna com as vidas diárias dos fiéis. O que suas afirmações também revelaram foi o claro conhecimento de que o Império Áustro-Húngaro era a pedra angular da Europa, e que para mover o edifício era preciso remover a pedra. A Primeira Guerra Mundial foi simplesmente a erradicação desta pedra! Foi uma guerra em que o coração político da Cristandade foi destruído para sempre.

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Na noite de 28 de junho de 1914, o Papa estava incomodado por uma apreensão crescente. Ele chamou Merry del Val, que ficou assustado com a aparência do Santo Padre. Medo e preocupação estavam expressos em suas feições e a mão que ele estendeu tremia: "Il guerone (a guerra mundial) está quase em cima de nós", sussurrou Pio. "Ah não, Santo Padre! O céu político está sem nuvens. Não há perigo, os diplomatas estão se preparando para viajar durante as férias", respondeu o secretário de Estado. Ao ouvir isso, Pio X balançou a cabeça em desaprovação: "Não vamos passar 1914 em paz. Acredite em mim, Eminência".

Uma batida na porta interrompeu a conversa e uma missiva foi entregue ao Papa. Um olhar sobre a folha, e sua mão trêmula a deixou cair. Curioso, Merry del Val pegou o papel e leu: "O arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e sua esposa, Sofia, Duquesa de Hohenberg, foram assassinados pelo extremista sérvio Gavrilo Princip durante visita a Sarajevo, na Bósnia". Ainda não entendendo todas as implicações, o Cardeal tentou diminuir a ansiedade do Santo Padre, argumentando que um evento como este não se desenvolveria numa guerra em escala continental. "Oh meu Senhor", gemeu o Papa em aflição e, dirigindo-se para a capela, caiu de joelhos diante do tabernáculo.

Em 30 de maio de 1914, durante uma audiência de despedida com o Papa Pio X, Dr. Chaves, o embaixador brasileiro que havia sido chamado de volta para a casa por seu governo, demonstrou estar ciente dos eventos mundiais. No entanto, durante a conversa, o Papa perguntou ao embaixador: "Está feliz em poder voltar para o Brasil? Você não vai ser uma testemunha da guerra". "Sua Santidade fala sobre o conflito dos Balcãs?", perguntou o embaixador. "Não, não, o problema dos Balcãs é apenas o começo de uma conflagração mundial que não posso evitar", concluiu o Santo Papa.

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Além da visão profética de São Pio X nos meses que antecederam a eclosão da Grande Guerra, o Sumo Pontífice carregava a compreensão de que era impotente, no cenário geopolítico, para deter o conflito pelos meios naturais. "Nos tempos antigos o Papa, com uma palavra, podia parar a matança, mas agora eu sou impotente". Estas palavras foram expressas pelo Papa em maio de 1914, num consistório privado, quando também disse aos cardeais: "Mais do que nunca o mundo suspira pela liberdade, mas ainda vemos como nação se levanta contra nação, raça contra raça. E nós sabemos como o ódio se transforma em guerra terrível".

Em um dos últimos dias de julho daquele ano fatídico para a raça e o espírito humano, o Cardeal di Belmonte, Delegado Pontifício para o Congresso, voltou a Roma e disse ao Santo Padre que, apesar da crescente onda de ódios nacionais e raciais, não havia dúvida de que o Papa era muito amado pelos povos. Cada vez que o nome de Pio X era mencionado, grande entusiasmo tomava conta das multidões reunidas e de vigília na Terra. Assim, o Papa havia provado ser o "Pai de todos os Cristãos", o verdadeiro representante de Jesus. Mas esta cristandade unida em breve perderia a presença de São Pio X no mundo dos homens.

O tempo da "religio depopulata" aproximava-se rapidamente. Em 02 de agosto, o Papa dirigiu uma urgente e severa advertência ao mundo inteiro, pedindo a todos que orassem pela paz mundial. Infelizmente São Pio X estava esgotado pela tristeza ou preocupação e só conseguia carregar seu fardo perante o público, pois não tinha forças para falar às multidões, mas mesmo assim pregou: "Meus filhos, meus filhos, eu sofro por todos que morrem em campo de batalha. Oh, essa guerra! Sinto que é a minha morte. Mas alegremente ofereço minha vida pelas crianças e pela paz no mundo". Durante a primeira metade de agosto, Pio X abençoou grupos de peregrinos em silêncio, mas não fez nenhum discurso público.

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Ele dormia menos do que costumava, porém sua saúde nos últimos cinco dias de vida parecia muito boa. Nem os médicos ou as irmãs que ajudavam nas atenções ao Papa quando assumiu residência no Vaticano, estavam preocupados com sua saúde. Mas, em 19 de agosto, teve uma leve febre que o deixou completamente prostrado. Ao perceber a gravidade da própria situação, disse: "Que a vontade de Deus seja feita, pois sinto que é o fim. Talvez Ele, em Sua bondade, deseje poupar-me dos horrores que irão abater-se sobre a Europa". Naquela tarde, o Cardeal Merry del Val ouviu dos médicos que o Papa estava acometido por pneumonia grave, ficou sem esperanças e disse: "Ele sofreu a tensão dos eventos da guerra na Europa, que o enfraqueceram terrivelmente para que pudesse resistir a uma doença"

De acordo com seu médico pessoal, estas foram as últimas palavras do Papa São Pio X: "Ofereço minha vida como um sacrifício para prevenir o massacre de tantos dos meus filhos". Então, nas primeiras horas de 20 de agosto de 1914, Giuseppe Melchiorre Sarto sussurrou suas últimas palavras que foram um ato de confiança no poder de Deus. Em seu próprio dialeto veneziano, São Pio X disse: "Gesù, Giuseppe e Maria, vi dono il cuore e l'anima mia" (Jesus, José e Maria, entrego a vós o coração e minha alma). Neste momento, os sinos foram ouvidos por toda a Itália, ressoando através do mundo. O Católico, Pontífice e Pastor de tantas almas humanas eram um só neste momento de perfeita e total autorrendição do espírito.

Em nenhuma época na História da Igreja Católica existiu melhor exemplo do que São Pio X, um dos eleitos de Deus. Suas ações sempre refletiam virtudes como a piedade e caridade extrema, humildade e simplicidade profunda e um enorme zelo pastoral. A inscrição no seu túmulo, na cripta da Basílica de São Pedro, mostra o testemunho eloquente de uma vida a serviço de Deus: "Nascido pobre e humilde de coração, destemido defensor da Fé Católica, zeloso para restaurar todas as coisas em Cristo e coroado em uma vida Santa e uma morte Sagrada".






2 comentários:

Anônimo disse...

Outro milagre extraordinário do Papa Pio X aconteceu com um casal de príncipes da nobreza romana durante uma audiência. O Papa observou que a princesa chorava copiosamente e perguntou o porquê? A princesa respondeu que a filha sofria de paralisia infantil. Deixe-me vê-la pede o Papa, e coloca a criança de pé sobre seus joelhos por alguns instantes. Depois diz para a mãe: "A senhora está enganada porque sua filhinha não sofre de nada, experimente fazê-la andar". Então seus pais viram a filhinha caminhar normalmente pois estava totalmente curada!

Anônimo disse...

Jamais conheceremos, ou existiu, um Papa como São Pio X na história da Igreja Católica. Sua humildade, santidade e pureza da alma constituiram este ser único entre os humanos. Que Deus o abençoe por toda a eternidade.