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14 março 2019

A ERA DOS KHAZARES - THE ERA OF KHAZARS

KHAZARS

No mundo pré-cristão mediterrânico, o oligárquico império da Babilônia estendia-se desde o Golfo Pérsico a leste até o Mar Vermelho ao Sul. A "prostituta da Babilônia" citada no Apocalipse de São João não era uma construção metafísica, mas sim uma abordagem realista e crítica da mais proeminente oligarquia familiar da Mesopotâmia.

Outro centro oligárquico poderoso encontrava-se na Fenícia, outrora situada no litoral da atual Síria. Sua população de mediterrâneos de origem semita canaanita descendia do contingente populacional que habitava Canaã em 2800 a.C. No mundo grego, o centro do saber oligárquico era cidade de Delfos, sede do principal templo dedicado ao deus Apolo, onde filosofavam seus principais pensadores: Licurgo de Esparta  e  depois, Aristóteles.

Segundo Aristóteles, a sujeição a uma autoridade despótica é uma faceta inerente à natureza humana, pois nascemos para servir e para tal função pré-existimos. O formalismo de Aristóteles — a doutrina segundo a qual as verdades científicas são puramente formais e repousam nas convenções — reduziu a questão do conhecimento humano à uma crua percepção dos fatos existentes, contemplando a criatividade humana com o infame conceito da época: "Os plebeus são apenas animais irracionais".

Mas as Eras sucederam-se umas às outras, e o longo e tortuoso caminho da humanidade através da História agora transportou-nos ao quinto século da Era Cristã, para as estepes russas e ao litoral Mediterrâneo, duas regiões pertencentes ao reino dos khazares. Esta será a história da saga destes beligerantes guerreiros caucasianos que dominaram grande parte do Hemisfério Norte.

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Atualmente, por ambições étnicas, os khazares tornaram-se as entidades dominantes dos debates políticos pertinentes ao avanço do sionismo internacional. Porém, fortes evidências históricas desvendaram a verdadeira etnologia deste povo misterioso — sem nenhuma ascendência semita canaanita — e sua conexão com a História.

Estudos genéticos sobre os judeus não encontraram evidências de uma origem entre os khazares, ao contrário: "Inúmeras evidências apontaram para uma herança genética misturada originária no Oriente Próximo, entre os povos do Crescente Fértil". O estudo do DNA mitocondrial foi realizado por uma equipe liderada por Martin B. Richards, Universidade de Huddersfield, que não encontrou linhagens maternas e paternas atribuíveis à região do Cáucaso.

Richards resumiu seus resultados: "Nenhum DNA mitocondrial provém do norte do Cáucaso, localizado ao longo da fronteira entre a Europa e a Ásia, entre os mares Negro e Cáspio. Todos os nossos estudos atualmente disponíveis, incluindo o meu, devem desbancar completamente uma dos mais questionáveis, mas ainda tenaz, hipótese de que a maioria dos judeus pode traçar suas raízes para o misterioso Reino da Khazaria, que floresceu durante o século IX na região do Império Bizantino e o Império Persa".

No quinto século, a Khazaria era a maior nação da Terra em extensão territorial, ocupando uma área equivalente à metade da atual Rússia: estendendo-se desde o oeste da Hungria até o leste do Mar Aural, limitada ao norte pelo Rio Volga e ao sul pelas montanhas do Cáucaso. O império dos khazares abrigava uma uma imensa população composta por pagãos eslavos, notáveis por sua ferocidade e crueldade para com seus inimigos.

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Os khazares mantinham um exército permanente com centenas de milhares de guerreiros, que guardavam vastos territórios entre o Cáucaso e o Mar de Aral, desde os Montes Urais até as estepes ucranianas. Eles descendiam dos povos indo-europeus que habitaram a Europa central e oriental há mais de sete mil anos!

Em 632 d.C., após a morte de Maomé, os exércitos árabes iniciaram a "guerra-santa" visando conquistar as terras setentrionais, aniquilando populações e arrasando vilarejos até serem detidos pela barreira do Cáucaso, a região montanhosa entre o mar Negro e o Cáspio que inclui sua grande cordilheira e as planícies adjacentes.

Sem este intransponível impedimento geológico a História da Europa e do Mundo Cristão teria sido vastamente diferente do que é hoje, pois foi no Cáucaso que os árabes enfrentaram os khazares e sofreram várias derrotas humilhantes — uma guerra que durou mais de um século e efetivamente impediu que a Europa adotasse o islamismo como religião oficial.

Estas vitórias dos khazares moldaram os séculos vindouros da Plena Idade Média e os desdobramentos sociopolíticos que acabaram por definir a Europa, a Ásia e o Oriente Médio. Há muita evidência histórica apontando para esta raça de guerreiros tão violentos que eram temidos pelos povos da época. O cronista árabe, Ibn-Said al-Maghribi descreve os khazares:

"Eles vivem ao norte, onde a terra é fria e úmida, tendo sobre suas cabeças a constelação do Plough (Ursa Maior). Sua tez é branca e seus olhos azuis, seu cabelo é avermelhado e seus corpos grandes, com aspecto selvagem e destemido. Quando um chefe militar envia suas tropas eles não recuam em nenhuma circunstância, pois quando derrotados, cada um que retornasse seria morto e esquartejado pelo "bek" (chefe khazar) e seus soldados, que cortavam o guerreiro em dois e penduravam o resto pelo pescoço, assim a derrota não era uma opção viável e todos lutavam até a morte". 

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Os rituais dos khazares eram primitivos e sua estrutura religiosa era centrada no xamanismo, incorporando o culto aos espíritos (deus "Tengri") e a zoolatria. Esta era a religião da maioria dos khazares desde que o cristianismo ortodoxo era professado apenas pela elite e a realeza, já convertidos pela influência do Império Bizantino e cristãos armênios locais.

Historiadores confirmaram que os khazares não descendem da etnia de Judah, uma atual reivindicação sionista devido à personalidade de base e alta linhagem daquela Família. Os atuais descendentes dos khazares são: os russos, bielo-russos, ucranianos, búlgaros, sérvios, croatas, macedônios, eslovenos, tchecos, eslovacos, poloneses e os lusácios (leste da Alemanha), entre outros.

O reino da Khazaria atingiu seu auge de poder e influência em 750 d.C., e sua sentença de morte deveu-se à chegada dos vikings, os sagazes invasores e conquistadores bárbaros. Nos séculos VIII a XI, Anno Domini, este povo escandinavo de navegadores, guerreiros e mercadores já percorria a costa européia, alcançando a Groenlândia, o Canadá, a América e as principais vias náuticas do Hemisfério Norte.

Assim, a ferocidade lendária dos khazares foi suplantada pelos experientes e incansáveis vikings, que não se dignavam a negociar uma trégua e nem se abatiam até que não fôsse mais possível aniquilar seu inimigo — os vikings preferiam o ouro manchado de sangue ao lucro certo de qualquer atividade mercantil.

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O enfraquecimento da influência militar dos khazares na Ásia e no Mediterrâneo foi fortemente determinante na dissolução do Império Bizantino. No final da Era dos Khazares, estes já não possuiam suas guarnições poderosas postadas nas fronteiras orientais, nem para evitar um ataque viking ou uma invasão suicida dos terríveis mongóis. Assim, acabaram por permitir que seu território fôsse invadido e saqueado. O antigo reino dos Khazares era uma sombra do passado e, enfraquecido pelas guerras constantes, foi dizimado!

Estes fatos, aliados às facções dissidentes dentro da própria Khazaria, resultaram na dispersão dos khazares por toda a região da atual Rússia e através da Europa Oriental, causando novamente uma nova reformulação da História da Humanidade.

O fim do reino dos Khazares não foi precipitado pelas batalhas decisivas perdidas ou sucumbindo às forças invasoras superiores durante um longo período, pois tudo ocorreu gradualmente. Mesmo assim, mantiveram suas defesas de prontidão até a metade do século XII, quando uma devastadora invasão perpetrada pelo imperador mongol Gengis Khan (1162-1227), capitaneando um exército de 250.000 indivíduos, selou o destino final daquele povo guerreiro.

Porém, mesmo depois desta última derrocada arrasadora, os khazares continuaram a enviar um imenso contingente populacional, centenas de grupos de migrantes, objetivando a ocupação gradativa dos territórios não subjugados pelos inimigos. Assim, o soerguimento destes novos assentamentos na Europa e na Ásia ainda mantiveram uma esperança no renascimento da "Nova Era dos Khazares", mas era tarde demais para os verdadeiros "pais" dos eslavos do Hemisfério Norte.



26 outubro 2014

A FACE OCULTA DA MONARQUIA - THE HIDDEN FACE OF MONARCHY

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Na segunda metade do século XVI, as linhagens reais das quais descendem os atuais entronizados do continente europeu, já haviam sido estabelecidas. Atualmente, mais de quarenta monarquias são oficialmente reconhecidas pela ONU. Monarquia é a forma de governo em que o chefe de Estado tem o título de rei, rainha ou assemelhado.

As monarquias são compostas por indivíduos que nutrem ambições egoístas de acumulação de riquezas e perpetuam o suposto direito de dominar populações inteiras.

Estas autodenominadas "famílias reais", procuram manter seu domínio sobre as pessoas comuns mas, para que isto suceda, eles mentem, roubam e assassinam aqueles que irrompem sua estabilidade no poder. Eles alardeiam que a força da autoridade real deve ser obedecida a qualquer preço.

Durante séculos, as elites reais gastaram seu tempo ocioso elaborando castigos terríveis para punir os dissidentes e o povo indignado; os denominados traidores. Assim, criaram as formas mais repugnantes de tortura para atormentar os que questionassem qualquer édito real.

Os pretensos traidores eram invariavelmente punidos de formas exemplares: como ter os braços e pernas atados a cavalos que, instigados, galopavam em direções opostas despedaçando a vítima em várias partes.

Por volta de 1600 d.C., todos os tronos da Europa encontravam-se ocupados pela realeza etnicamente alemã ou seus descendentes. Esta elite era extremamente rica pois obtinha seus enormes lucros através do trabalho escravo dos camponeses e do monopólio do comércio internacional.

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A atual família real britânica também carrega sua parcela de sangue saxão. O termo "Casa de Windsor": a casa real do Reino Unido e dos outros reinos do Commonwealth, foi uma alternativa frasista para a "Casa de Wettin", os representantes da linhagem alemã Saxe-Coburg-Gotha. A "Casa de Wettin" abrigava a elite do Sacro Império Romano-Germânico que imperava na região da Saxônia.

Esta antiga realeza ocupava os tronos da Grã-Bretanha, Alemanha, Bélgica, Polônia, Bulgária, Portugal, etc. Atualmente, somente as dinastias belgas, britânicas e do Commonwealth, mantêm-se entronizadas. A denominação "Wettin" foi alterada para "Windsor" devido ao sentimento anti-alemão difundido no Império Britânico durante a Primeira Guerra Mundial.

A linhagem dos Saxe-Coburg-Gotha ocupa todos os tronos da Europa atual e chegaram a reivindicar uma suposta ascendência hebraica conjecturaram sobre o fictício direito de pertencerem à casa real de David. O Rei David bíblico que reinava sobre o povo Hebreu. O Rei David reinou sobre Judá de 1010 a 1003 a.C., e sobre o reino unificado de Israel entre 1003 a 970 a.C.

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Todas as famílias reais descendem e partilham da mesma linhagem genética devido aos cruzamentos consanguíneos entre os Saxe-Coburg-Gotha, os Schleisweg-Holstein-Habsburg e os Romanov-Cassel-Hesse. A rainha Vitória, considerada a mais britânica das rainhas, era casada com um alemão e fluente na linguagem e escrita germânica.

A rainha Vitória não foi popular durante o seu reinado, pois tinha por hábito manter em cativeiro adultos e crianças, como seus escravos. Nestes cárceres coletivos, os penalizados não contavam com qualquer proteção contra a umidade e o frio intenso da Inglaterra.

A rainha ordenava que o povo trabalhasse até a exaustão e impunha impostos extorsivos e incapacitantes à população. Este era o "modus operandi" da rainha Vitória assim como o de todos seus parentes germânicos espalhados nos tronos europeus durante a "Era Vitoriana Inglesa" (1837-1901).

Mas, nem tudo são flores no lado oculto da realeza, pois cada monarquia européia sempre carregou suas histórias de traição e assassinato entre familiares. Reis e rainhas mataram seus próprios filhos!

O rei Guilherme II (1056-1100), reinou sobre a Inglaterra desde 1087 até ser assassinado por seu irmão que, desta forma, entronizou-se com o título de rei Henrique I (1068-1135), reinando de 1100 até sua morte.

Henrique II (1133-1189) reinou desde 1154 e, para não fugir a regra, manteve sua esposa, Leonor da Aquitânia (1124-1204), encarcerada durante 20 anos nos castelos de Chinon e Salisbury na Inglaterra.

Henrique, o Jovem (1155-1183) foi o segundo dos cinco filhos da união entre o rei Henrique II e Leonor da Aquitânia. Tornou-se o herdeiro do trono da Inglaterra e foi coroado em 1170, reinando juntamente com a esposa, a princesa Margarida de França, a filha mais velha de Luís VII, o rei dos Francos.

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Esta entronização de Henrique, o Jovem, arranjada e orquestrada por seu pai, Henrique II, causou sérios conflitos com a Igreja Católica e, particularmente, com Thomas Becket, o Arcebispo da Cantuária.

Então, desagradado e amuado, Henrique II encomendou o assassinato do seu antigo amigo, Thomas Becket. Henrique, o Jovem, futuramente acabaria por insurgiu-se contra seu pai, morrendo em 1183 durante uma batalha contra seu progenitor.

Assim, o rei João (1166-1216), o filho mais novo de Henrique II tornou-se seu sucessor. João recebeu a alcunha de "João Sem Terra" e foi marcado por sua mesquinhez, maldade e crueldade, culminando por assassinar o próprio sobrinho. Em 1212, o rei João supervisionou pessoalmente o enforcamento de 40 jovens no País de Gales.

É frequentemente retratado como o vilão nas lendas de Robin Hood e histórias de Hollywood. O filho e sucessor do rei João, o rei Ricardo III (1207-1272), ordenou que seus próprios filhos, os jovens príncipes Edward e Richard, fossem presos e esfaqueados até a morte.

Um dos mais belicosos assassinos coroados foi o czar Ivan IV, o Terrível (1530-1584), que reinou na Rússia entre 1533 e 1547. Sua infância conturbada já indicava o que viria a seguir. Sua mãe sofreu uma das formas mais comuns de assassinato real, o envenenamento, quando o jovem Ivan tinha apenas oito anos de idade.

Quando ele completou nove anos, começou a torturar animais domésticos por diversão. Com a idade de dez anos, já supervisionava pessoalmente a tortura dos denominados "prisioneiros políticos". Cometeu seu primeiro estupro aos 11 anos de idade!

Quando foi coroado introduziu a monarquia czarista na Rússia enviando uma mensagem para todo o mundo: seria o único governante supremo do país e sua vontade não deveria ser questionada.

Declarou-se um líder divino, nomeado para decretar a vontade de Deus. Ordenou que os textos da Igreja Ortodoxa Russa deveriam ser reescritos, descrevendo os reis do Antigo Testamento como "czares" e Cristo como o "czar celestial".

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O russo Ivan IV torturou e assassinou mais de 300.000 pessoas, muitas vezes elaborando as piores técnicas de tortura e depravação extrema. Casou-se oito vezes, e todas as suas esposas morreram prematuramente de forma "misteriosa".

Sua primeira esposa, Anastasia Romanovna, faleceu em 1560 por suspeita de envenenamento. Temido pela crueldade desmedida e considerado como "totalmente insano" pelo povo, Ivan espancou quase até a morte sua nora, grávida, por comentar sobre a escolha das vestimentas de Ivan em certa ocasião festiva. Ela perdeu o bebê que tanto esperava.

Ivan Ivanovich, o esposo e filho de Ivan, o Terrível, foi tirar satisfações com o pai que, prontamente, golpeou-lhe a cabeça com uma barra de ferro, o que ocasionou a morte instantânea do rapaz. Tal ato, pérfido e atroz, colocou o filho mais novo de Ivan, Teodoro Ivanovich, no primeiro lugar da linhagem sucessória mas, infelizmente, era um incapaz e deficiente mental.

Marfa Vasilevna Sobakina foi a terceira esposa de Ivan, selecionada para o "cargo" entre 12 finalistas. Marfa casou-se com Ivan mas faleceu alguns dias mais tarde, sofrendo de uma doença "misteriosa".

Sua morte aumentou ainda mais a paranoia de Ivan que, já demonstrando graves problemas mentais, reportou-se à época da morte da primeira esposa. Imediatamente suspeitou de assassinato e conspiração contra sua pessoa. Então, condenou a morte vários súditos e parentes, incluindo Mikail Temjruk, o irmão da esposa anterior, que foi empalado pessoalmente por Ivan.

Anna Vasilychikova foi a quinta esposa do "Terrível". Casou-se com Ivan em janeiro de 1575 sem a bênção do conselho eclesiástico da Igreja Ortodoxa Russa. Ivan considerava-a "bela e de índole doce", porém, descobriu alguns meses após o casamento que ela tivera um caso com o príncipe Devletev.

Desta forma, Ivan obrigou que Anna assistisse a empalação do seu pretenso amante e, como punição, foi repudiada, tonsurada e encarcerada em um mosteiro, confinada ao claustro até o fim da vida. Mas, antes que cumprisse sua pena, sofreu uma morte violenta: foi torturada por ordens e na presença do seu marido, Ivan, o Terrível.



22 abril 2013

A INQUISIÇÃO - O MITO DA LENDA NEGRA - INQUISITION - THE BLACK LEGEND'S MYTH - 2ª PARTE


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Sisto IV era o Papa quando a Inquisição foi instalada em Sevilha, no ano de 1478. Ele foi contra, devido aos abusos perpetrados, porém foi forçado a concordar quando o Rei Fernando II de Aragão ameaçou negar apoio militar à Santa Sé. O Papa não desejava a Inquisição instalada na Espanha, porém Fernando insistiu.


Ele persuadiu a Rodrigo Bórgia, então bispo de Valência e que se tornaria mais tarde o Papa Alexandre VI, a exercer influência através de um grupo em Roma junto ao Papa Sisto IV. Assim, Bórgia teve êxito com a instalação da Inquisição em Castela. Mais tarde, Bórgia teve o apoio espanhol ao seu papado ao suceder Sisto IV.


Fernando obteve assim o que desejava, controlar sozinho a Inquisição espanhola. Fernando e Isabel começaram a investigar e punir os conversos, judeus e mouros pretensamente convertidos ao Catolicismo, mas que continuavam a praticar suas antigas religiões em segredo. Alguns judeus disfarçados tornaram-se padres e mesmo bispos.


Os detratores chamavam os judeus convertidos de marranos, uma expressão pejorativa que significa porcos. Entre os anos 1486 e 1492, 25 autos-de-fé ocorreram em Toledo. Um total de 464 autos-de-fé contra judeus foi instaurado entre 1481 e 1826.


A pena mais leve imposta aos marranos era o confisco dos seus bens. A mais comum era serem obrigados a desfilar pelas ruas vestidos apenas com um "sambenito", traje que definia sua condição de hereges, e flagelados à porta da Igreja. A etapa seguinte era a morte na fogueira após inomináveis torturas.


Os reis católicos, Isabel e Fernando, precisavam de fundos para o reino e a perseguição movida aos hereges por Torquemada era uma fonte de renda que interessava ao Estado. Isabel e Fernando auto intitulavam-se "protetores da Igreja e defensores da fé".


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A Inquisição, como uma corte religiosa, era operada por autoridades da Igreja. Porém se uma pessoa fosse considerada herege, a punição era entregue às autoridades seculares, pois a Igreja não derramava sangue. A tortura frequentemente era usada como modo de penitência.

A mais comum punição era a vergonha pública, obrigar o uso do sambenito: a roupa de penitente, ou usar máscaras de metal com formas de burro e mordaças. Ser queimado em praça pública destinava-se  aos crimes mais graves. A morte pelo garrote, ou estrangulamento, era usada para os arrependidos.

Essas punições eram feitas em cerimônias públicas, os autos-de-fé. Algumas pessoas acusavam outras por vingança ou para obter recompensas da Coroa. A própria Coroa Espanhola beneficiava-se ao desapropriar os bens dos conversos. O número de autos-de-fé durante o mandato de Torquemada como inquisidor é muito controverso, mas o número mais aceito é de 2.000 vítimas.

Torquemada, no afã de obter dos reis a expulsão definitiva de todos os judeus, promoveu em 1490 um "julgamento-espetáculo", onde as vítimas foram oito judeus acusados de praticar rituais satânicos de crucificação de crianças Cristãs.

Em 31 de março de 1492, pressionados pelo clima de crescente de intolerância, Fernando e Isabel publicaram seu Edito de Expulsão: "Decidimos ordenar a todos os ditos judeus, homens e mulheres, que deixem nossos reinos e jamais retornem a eles."

Foi concedido aos judeus que permanecessem na Espanha até julho, mas a partir daí os que fossem encontrados seriam mortos. Muitos fugiram para Portugal ou para o norte da África, onde enfrentaram mais perseguições. Outros, sem alternativa, permaneceram na Espanha como "judeus ocultos".

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A ação intolerante de Torquemada trouxe-lhe forte oposição. Reclamações chegaram ao Papa Alexandre VI, que nomeou quatro adjuntos com iguais poderes visando limitar sua ação.

Em 1484, o Papa redigiu uma instrução, um livreto, que propunha normas e procedimentos para os processos inquisitoriais, inspirando-se em medidas já usuais na Idade Média. Foi publicada uma atualização em 1490 e uma outra em 1498.

O mito da Inquisição, que os espanhóis chamam de "a lenda negra", não surgiu em 1480. Começou quase um século mais tarde e exatamente um ano depois que os países protestantes que integravam o Sacro Império Romano-Germânico, fossem derrotados na batalha de Mühlberg pelos Católicos liderados por Carlos V Rei da Espanha.

A Inquisição foi aplicada contra os primeiros focos do protestantismo, contra a disseminação das idéias de Erasmo de Roterdão, contra o Iluminismo e, no século XVIII, contra o enciclopedismo.

Em 1567, uma campanha de propaganda feroz começou com a publicação de um folheto protestante, escrito por uma suposta vítima da Inquisição chamada Montanus. Este protestante retratava os espanhóis como bárbaros que violavam mulheres e sodomizavam meninos jovens.

Os propagandistas logo criaram a alcunha "demônios de capuz", que torturavam suas vítimas em dispositivos horríveis, cheios de facas, o que nunca foi usado na Espanha.

Apesar das ações das outras inquisições europeias contra a bruxaria, as bruxas não eram o principal foco da Inquisição espanhola. As acusadas de bruxaria eram normalmente qualificadas como loucas.

Durante o governo de Napoleão Bonaparte a Inquisição foi suspensa na Espanha, porém foi reinstalada quando Fernando VII de Espanha subiu ao trono. O professor Cayetano Ripoli, garroteado em Valência em 1826, foi a última vítima da Inquisição espanhola, que em 1834 foi finalmente abolida.

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Os historiadores declararam como fraudulento um suposto documento sobre a Inquisição alegando o genocídio de milhões de hereges, e este mito foi desmascarado pelas provas existentes nos arquivos da Igreja. O que foi comprovado é que por volta de 4.000 pessoas morreram durante a Inquisição nos 350 anos de sua história.

As 3.000 a 5.000 execuções documentadas da Inquisição são pálidas se comparadas com as de 200.000 bruxas queimadas em outros lugares na Europa ao longo dos mesmos séculos, ou as 150 milhões de vítimas do comunismo séculos mais tarde.

A Inquisição espanhola, tida como a mais cruel e violenta, teve sua imagem distorcida por protestantes que queriam minar o poder da maior potência mundial na época, a Espanha.

Cada processo inquisitorial ocorrido foi registrado individualmente pela Igreja durante os 350 anos em que essa Inquisição esteve ativa, mas somente agora esses registros estão sendo reunidos e analisados adequadamente.

Apesar da reputação sangrenta da Inquisição espanhola, que existiu formalmente durante este período infeliz, talvez até 2000 pessoas tenham sido queimadas como hereges. Embora esse número seja apenas uma pequena fração do que a "lenda negra" (black legend) rotineiramente alega, no entanto é preocupante o suficiente.

Quase todos os executados eram conversos ou novos-Cristãos. Conversos significava "professos do judaísmo", ou aqueles que foram condenados por praticar secretamente sua religião anterior.

Deve-se ter em mente que a Inquisição, como um Tribunal da Igreja, não tinha nenhuma jurisdição sobre mouros e judeus como tal. Mas, ironicamente, uma vez que tais pessoas aceitassem o Batismo, tornavam-se sujeitas à heresia, no sentido técnico da palavra.

Assim, a selvageria do início da Inquisição espanhola contribuiu para mais um capítulo na triste história do anti-semitismo, motivada nesta ocasião mais por oportunismo político-religioso do que por ódio racial. De qualquer forma, foi um enorme e imperdoável erro de cálculo, um crime contra a humanidade e um pecado contra Deus.

A INQUISIÇÃO - O MITO DA LENDA NEGRA - INQUISITION - THE BLACK LEGEND'S MYTH - 1ª PARTE



Fernando II-Aragão-Isabel I-Castela

No século XV a Espanha não era um estado unificado mas sim uma confederação de monarquias, cada qual com seu administrador, como os Reinos de Aragão e Castela, governados pelos Reis Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, respectivamente.


No Reino de Aragão, uma confederação composta por Aragão, Ilhas Baleares, Catalunha e Valência, havia uma Inquisição local desde a Idade Média, tal como em outros países da Europa.


Ainda não havia Inquisição no Reino de Castela e Leão. A maior parte da península Ibérica estava sob o governo dos mouros, e as regiões do sul, particularmente Granada, estavam bem povoadas por muçulmanos.


Até 1492, Granada ainda estava sob o controle mouro. As cidades mais importantes, como Sevilha, Valladolid e Barcelona, capital do Reino de Aragão, também tinham grandes populações de judeus em guetos.


Com o casamento de Fernando de Aragão com Isabel de Castela, sua prima em segundo-grau, os dois reinos uniram-se e a Espanha moderna começou a formar-se.


A Inquisição na Espanha atuou sob o controle dos reis da Espanha de 1478 até 1834. Esta Inquisição foi o resultado da reconquista da Espanha das mãos dos muçulmanos, e da política de conversão de judeus e muçulmanos espanhóis ao Catolicismo.


A Inquisição foi um importante instrumento na política chamada "limpeza de sangue", contra os descendentes de judeus e de muçulmanos convertidos. Decisões políticas tiveram que tratar dos mouros e da relativamente pequena mas influente comunidade judaica que havia florescido dentro de uma sociedade islâmica maior.


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Em 1478, ano em que foi criada a Inquisição, os Cristãos da península Ibérica estavam envolvidos em uma cruzada que perdurava há sete anos. A luta não era intermitente, mas desde o século VIII quando os árabes muçulmanos do norte da África invadiram-na através do Estreito de Gibraltar e com fogo e a espada subjugaram a península ao norte do rio Ebro, a resistência nativa à sua ocupação tinha sido constante.

Durante anos, com intervalos frequentes de inatividade, a resistência tinha gradualmente evoluído em contra-ataque, em uma crescente determinação para ganhar de volta o que havia sido perdido para os invasores muçulmanos.

Pouco a pouco este processo incessante de conquista e reconquista levou os descendentes desses invasores, os mouros, cada vez mais distantes para o sul até que, em 1478, restou para eles apenas um pequeno enclave em torno da cidade de Granada.

A reconquista prosseguiu até Granada, e o último vestígio do islã espanhol caiu sob os exércitos de Fernando e Isabel em 1492. A população conquistada, ligada por laços de raça e religião, muçulmanos que vieram dos principados do norte da África, distante 16 quilômetros do Estreito de Gibraltar, fazia parte de um vasto sistema imperial estabelecido pelos turcos muçulmanos, e era considerado um sistema poderoso e ameaçador para a Europa Ocidental.

Os Cristãos vencedores, temerosos com os simpatizantes muçulmanos em seu meio, ofereceram uma proposta na qual os mouros e judeus teriam de escolher entre o Batismo ou a expulsão do país, agora inteiramente Católico.

Mas, com receio de que as leis comandando o exílio ou a conversão dos judeus fossem frustradas por conversos, ou seja, "católicos de sinagogas", Fernando e Isabel encomendaram um inquérito, e a partir daí a Inquisição.

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Os reis começaram a Inquisição na esperança de que a unidade religiosa promovesse a unidade política, e outros chefes de estado anunciavam os trabalhos para o advento de uma Cristandade unificada na Espanha.

A Inquisição teve um caráter secular, embora o crime fosse a heresia. Inquisidores não precisavam ser clérigos, mas teriam de ser legisladores. Os inquéritos eram baseados em regras e cuidadosamente mantidos em arquivos. A organização da Inquisição espanhola diferia marcadamente do seu antecessor romano.

Com a sua ênfase na centralização e controle real, refletiu o surgimento do Estado-nação e a responsabilidade de que a monarquia deveria garantir a ortodoxia religiosa. Assim, o "Grande Inquisidor", Torquemada, foi nomeado pelo rei e era responsável perante ele, apenas com a aprovação nominal do Papa.

O inquisidor, por sua vez, nomeava cinco membros do conselho superior sobre o qual presidia. Este corpo, com seu enxame de consultores e empregados, exercia o poder supremo na competência da Inquisição.

Torquemada decidia tudo, e ouvia todos os apelos dos tribunais inquisitoriais inferiores que, em meados do século XVI eram dezenove, espalhados por toda a Espanha e outros territórios ocupados na Itália e na América. Sem a permissão do "Alto Conselho", nenhum sacerdote ou nobre poderia ser preso.

O "auto-de-fé" era a cerimônia religiosa que incluía a punição dos hereges condenados ou a reconciliação das pessoas que se retratavam, e não poderia ser realizada em qualquer lugar sem a sanção do "Conselho Superior". O controle também foi aprimorado com a exigência de que os tribunais inferiores apresentassem os relatórios gerais anualmente e os financeiros a cada mês.

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Quanto ao procedimento, a Inquisição espanhola praticamente seguiu o precedente estabelecido no século XIII e copiou os modelos fornecidos pelos tribunais seculares. A maquinaria jurídica era colocada em movimento por denúncia juramentada de um indivíduo ou, ocasionalmente, de uma determinada aldeia ou região.

Em última instância, antes do inquérito formal, era emitido um "período de graça" de trinta a quarenta dias, durante os quais os suspeitos poderiam retratar-se ou preparar sua defesa.

Uma vez que o acusado ou réu usasse os serviços de um defensor, ele não poderia ser julgado pelos oficiais do "Tribunal de Justiça" sem a presença de dois sacerdotes. A identidade das testemunhas do seu alegado crime, no entanto, não seria revelada ao réu, por isso ele não poderia confrontá-los.

Isso era uma grave desvantagem, porque os falsos acusadores eram muitos. Juízes, e não jurados, decidiam questões de fato e também segundo o direito em vigor.

A Inquisição espanhola combinava as funções de investigação, acusação e julgamento. Na verdade, alguém preso pela Inquisição era considerado culpado até ser provado inocente.

A tortura, comum em jurisdições seculares, havia sido proibida na Inquisição romana antiga, mas estava outra vez sendo posta em uso, com as reservas de ser aplicada apenas uma vez e de que não atentasse contra a vida ou integridade do réu.

Na Espanha estas regras foram adotadas, mas desde o início, o Papa Sisto IV, inundado com o clamor popular, protestou junto ao Governo espanhol que a Inquisição estava empregando a tortura livremente. Infelizmente os avisos do Papa caíram nos ouvidos moucos dos inquisidores.


A INQUISIÇÃO - O MITO DA LENDA NEGRA (BLACK LEGEND) - 2ª PARTE