A diferença entre teologia e ciência, ambas baseadas na observação e experiências, é que a teologia estrutura-se na Fé e a ciência na prova empírica. Porém as características e métodos para o conhecimento são os mesmos, desde que só através do estudo dos fatos é que se obtém a dedução.
Na ciência, os fatos são derivados da observação da natureza, do estudo da matéria e da existência humana, enquanto que na teologia provém das deduções do estudo das Escrituras somadas às experiências metafísicas — sistema filosófico voltado para a compreensão ontológica ou teológica, suprassensíveis à realidade.
Esta similaridade também é observada entre a teologia e a filosofia, pois são erigidas sobre as bases puramente racionais das ciências experimentais, quando empregadas nas elevadas questões da vida humana. Mas a teologia é baseada na Revelação Divina e, consequentemente, existem distinções notáveis entre ambas as sabedorias — a teologia não é filosofia, mesmo quando vagueamos pelos profundos fatos da Fé de difíceis compreensão.
Foi o teólogo São Gregório que considerou o mérito de São Basílio de dominar a dialética com perfeição, ao desmontar as construções filosóficas dos adversários do Cristianismo. Em suas renomadas homilias sobre a Santíssima Trindade, ele afirma: "Brevemente, quanto possível, na maneira dos pescadores e não de Aristóteles, eu vos apresentei nosso amor pela sabedoria que é dogmática e não dialética, espiritual e não engenhosamente tramada, de acordo com as regras da Igreja e não do mercado".
Os dogmas da Igreja Católica sempre foram direcionados para a confirmação das verdades da Fé na consciência humana, desde que tal confirmação foi confessada pela Igreja desde seu início, indicando qual seria o modo de pensamento dos seguidores da Tradição Ecumênica.
A Igreja sempre combateu as heresias e procurou uma forma precisa de expressar as verdades da Fé como percebidas no passado, ou seja: fundamentadas nas Escrituras e no pensamento dos Apóstolos, que são o padrão da totalidade da concepção do Cristianismo.
Atualmente nenhum Cristão pode aprofundar-se nas verdades da Fé mais do que os Apóstolos o fizeram. Assim, qualquer tentativa, em nome da teologia cristã, de revelar novas verdades ou novos aspectos dos dogmas que foram ensinados é completamente fora de propósito.
O objetivo da teologia deve ser o de apresentar, com embasamento firme e comprovado, o ensinamento cristão que nos foi repassado, mas tal fato não significa que a exposição teológica dos dogmas deva apresentar uma forma inalterável. Cada época tem uma visão e compreensão próprias das questões envolvendo as verdades cristãs, e a teologia naturalmente sempre considerou as nuances das verdades dogmáticas de acordo com este fato histórico.
Neste sentido pode-se intuir que falta alguma coisa no desenvolvimento da teologia dogmática, como um ramo próprio do aprendizado religioso, ressaltando porém que não há espaço para o debate sobre o desenvolvimento da própria Fé, pois esta carrega um aspecto individual, intuitivo e metafísico de difícil aferição e controle.
O pensamento teológico contemporâneo contemplou a visão de que a teologia dogmática deveria ser suplementada e iluminada por uma base filosófica, e que esta deveria acolher o conceito filosófico nela contido — mas não se deve confundir aprendizado teológico e filosófico com seus propósitos, conteúdos e métodos!
Nos primeiros séculos do Cristianismo, os escritores cristãos responderam às idéias filosóficas de seu tempo utilizando os conceitos trabalhados pela filosofia antiga, criando uma ponte entre a filosofia grega e a nova filosofia Cristã. Assim, o Cristianismo apresentava-se com uma nova visão que substituiu as versões filosóficas do mundo antigo. Mas esta não poderia ser uma simples substituição da filosofia pagã pela cristã e, por conseguinte, a apologética cristã tomou posse do pensamento filosófico pagão adaptando seus conceitos para o Cristianismo.
O tratado de São Basílio sobre qual benefício poderia ser aproveitado das obras pagãs, fornece um exemplo de como usar o material instrutivo contido nestes escritos. Com o espalhamento universal dos conceitos cristãos, o interesse na filosofia grega gradualmente perdeu seu conteúdo disciplinador — um desenvolvimento natural já que a teologia e a filosofia são distintas.
Jesus Cristo não pregou idéias abstratas, mas sim, apresentou uma nova vida no Reino de Deus, enquanto que a pregação dos Apóstolos versava sobre a Salvação. É por isso que a teologia dogmática cristã tem como seu principal objetivo a doutrina da Salvação e o caminho para alcançá-la. Em seu conteúdo básico a teologia é soteriológica — a doutrina da Salvação do Homem.
Mas as questões da ontologia de Deus, da essência do mundo e da natureza humana são tratadas de maneira limitada pela teologia, pois são questões pouco debatidas nas Escrituras, onde a área mais importante da abordagem teológica foi o estudo da Santíssima Trindade como revelada pelo Novo Testamento.
A filosofia segue um caminho diferente, pois está interessada nas questões ontológicas, na essência da existência e na relação entre o princípio absoluto do mundo e suas manifestações concretas. A natureza filosófica provém da dúvida sobre as nossas concepções e mesmo quando aborda a Fé ela é objetiva!
Sua abordagem é sujeita ao exame e às definições racionais, com uma explanação sobre a essência e relação da existência absoluta com o mundo de manifestações. A filosofia é racional, abstrata e não procede da Fé, como a teologia, porque baseia-se nos indisputáveis axiomas fundamentais da razão, deduzindo conclusões sobre os fatos da ciência ou do conhecimento humano.
A fonte da teologia é a Revelação Divina contida nas Sagradas Escrituras e seu caráter fundamental depende da nossa Fé e das verdades Divinas. A teologia reúne e estuda o material encontrado nessas fontes, sistematizando e dividindo-o em categorias apropriadas, utilizando os mesmos conceitos das ciências experimentais.
Assim, não se pode negar a cooperação entre as duas matérias: teologia e filosofia. A filosofia carrega a conclusão de que há limites no pensamento humano que, por sua própria natureza, são impossíveis de se ultrapassar. O fato de que a história da filosofia tem sido abordada nas visões idealistas e materialistas, demonstra que seus sistemas dependem de uma predisposição pessoal da mente e coração do filósofo, que baseia-se naquilo que está além dos limites da prova.
Mas, para o pensamento religioso, o que está além dos limites da prova é a esfera da Fé e da Revelação Divina. Esta abordagem crucial da convergência entre filosofia e teologia forneceu a possibilidade da união entre as duas principais esferas do conhecimento humano, e isto significou a criação da filosofia cristã.
Mas esta nova filosofia religiosa tem um longo e difícil caminho para percorrer, pois precisa unir a atual liberdade do pensamento humanista aos antigos dogmas do ensinamento da Igreja Católica. Ainda assim, é preciso que haja uma clara distinção entre a teologia dogmática e a filosofia cristã, e todas as tentativas de fundi-las numa só matéria devem ser rejeitadas.
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