Na atualidade, a Igreja Católica Romana reconheceria que os horrores indizíveis que a Igreja medieval impôs aos hereges foram injustos. No entanto, em geral os Católicos tentam justificar a conduta da Igreja dizendo que esta só agia dentro das normas da sociedade medieval.
A sociedade de nossos dias não admitiria que alguém fosse queimado na fogueira, mas a sociedade medieval sim, queria isso. A Igreja simplesmente marchava ao som das normas sociais daquela época! Mas, será que isso justifica a Igreja? Não, absolutamente.
Os valores e os mandamentos que Jesus nos deu são permanentes, não mudam com a sociedade. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente. Já que o Reino de Deus não é deste mundo, as normas sociais que violam as normas do Reino são irrelevantes.
Ninguém justificaria um Cristão que adorasse imagens pagãs só porque essa era a norma na sociedade em que ele vivia. Jesus não nos disse: "Amai a vossos inimigos, a não ser que o governo e a Igreja digam que os tortureis".
Agostinho costuma ser creditado como o criador da doutrina da "guerra justa". Mas, na realidade não foi. Os filósofos e os governantes pagãos gregos foram os primeiros a formular uma doutrina da guerra justa. Agostinho só se apossou do que eles tinham ensinado centenas de anos antes.
A verdade é que Agostinho justificou a guerra, e apresentou várias justificativas para a guerra em suas obras. No entanto, o mesmo Agostinho nunca disse que tinham que se cumprir todos estes critérios ou aspectos para que uma guerra fosse justa. Mesmo assim, baseados nos escritos de Agostinho, os teólogos medievais sugeriram uma lista de condições que tornariam justa uma guerra.
Segundo estes teólogos, seria correto e justo um cristão matar outro homem somente se:
-Amar o homem que ele está matando.
-Matar numa guerra que se iniciou como último recurso depois de toda outra solução possível ter fracassado.
-Matar numa guerra feita para restabelecer os direitos que verdadeiramente foram violados, ou para se defender de demandas injustas impostas à força.
-Matar numa guerra feita sob a autoridade de um governante.
-Matar numa guerra em que seu lado tem uma possibilidade razoável de ganhar.
-Procurar distinguir entre soldados e civis, e nunca matar civis de propósito.
-Matar numa guerra onde a matança é "proporcional" ao fim que se procura.
-Matar numa guerra em que o bem que se procura por meio de sua violência, superar o mal que a violência produz.
-Matar numa guerra em que o lado vencedor nunca exigirá a total humilhação do lado perdedor.
Os critérios da "guerra justa" são uma clara violação dos Ensinamentos de Jesus. Por exemplo, os critérios da "guerra justa" propõem que, para ser justa, uma guerra deve ser travada para restabelecer os direitos que verdadeiramente foram violados, ou para se defender das demandas injustas impostas pela força.
No entanto, Jesus já tinha abordado esse mesmo assunto. Ele disse que não devemos resistir ao que é mau.
Se alguém quiser lhe tirar sua túnica, permita-lhe que leve também sua capa. Se alguém lhe obrigar a levar carga por uma milha, vá com ele duas. Os cristãos não fazem guerra para restabelecer os direitos, eles sofrem as perdas de boa vontade. Eles oferecem a outra face. Eles não se vingam nem contra-atacam. Também não acreditam que estas coisas, como a matança, possam ser feitas com amor.
Quem decide se uma guerra é justa? Suponhamos por uns momentos que se uma guerra reunisse todos os critérios mencionados anteriormente, realmente seria justa aos olhos de Deus? Nesse caso, a próxima pergunta seria quem decide se uma guerra reúne estes critérios? A Igreja, os cristãos ou o Estado?
Agostinho responde, que o Estado é quem determina isto. Portanto, como sabem os indivíduos cristãos se a guerra em que estão participando é realmente justa ou não? A resposta é que não sabem!
Agostinho reconhecia isto ao dizer: "Não há poder senão de parte de Deus, que ordena e permite. Portanto, um homem piedoso pode servir sob o domínio de um rei ímpio. Contudo, ele pode cumprir com o dever inerente à sua posição no Estado ao lutar sob a ordem de seu soberano".
"Pois em alguns casos é claramente a vontade de Deus que ele deve lutar. Mas, em outros casos, pode não ser tão evidente, pois talvez seja uma ordem injusta da parte do rei. No entanto, o soldado é inocente, porque sua posição faz com que a obediência seja um dever".
Enfim, até a doutrina da "guerra justa" é uma farsa. Espera-se que o cristão obedeça inclusive às ordens injustas de seu rei, e que seja inocente ao fazê-lo.
Tal como Agostinho reconhecia, uma pessoa não pode conceder lealdade total a dois reis, um rei terrestre e um Rei Celestial. Portanto, sua solução era que enquanto estivermos aqui na terra, o rei terrestre deve receber nossa lealdade absoluta.
As únicas exceções seriam se o rei nos ordenasse que adorássemos falsos deuses ou nos ordenasse que crêssemos em falsas doutrinas não aprovadas pela Igreja. No entanto, a solução de Agostinho é totalmente inaceitável para Cristo.
Ele não nos permite que ofereçamos uma lealdade superior a nenhuma outra pessoa ou poder. Já que por ela, se um rei terrestre nos der uma ordem que viola os ensinamentos de Jesus, é ao rei terrestre a quem temos que desobedecer, e não ao nosso Rei Celeste.
O "cristianismo híbrido constantiniano" procura eximir os cristãos de qualquer responsabilidade individual para com Jesus Cristo. O híbrido propõe que a Igreja decide o que devemos crer ou praticar e, enquanto obedecermos à Igreja, estamos livres de qualquer culpa na esfera espiritual.
De maneira semelhante, o híbrido diz que é o governante secular quem decide quando é correto matar, torturar, desterrar ou saquear os outros.
Enquanto estivermos obedecendo a nosso governo, seremos inocentes diante de Cristo na esfera secular. E desde então, milhares de cristãos têm matado o seu próximo, e até os seus irmãos em Cristo, sem sentir nenhuma responsabilidade moral por esse ato. Afinal, eles só estavam cumprindo ordens!
1 comentários:
Profundo e explicativo, thanks!
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