No Anno Domini de 1914, Giuseppe Melchior Sarto, nosso Papa São Pio X, visitava o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes na França quando, voltando-se para seu acessor Dom Bressan, afirmou: "Estou pesaroso pelo próximo Papa e não vivenciarei os fatos que virão, mas a verdade é que a 'Religio Depopulata' (religião despovoada) chegará muito em breve". Assim, podemos concluir que a percepção metafísica de São Pio X previra o despovoamento da Europa - entre outras profecias do Papa Pio X sobre a Primeira Guerra Mundial.
Naquela época, existiam profundas inimizades entre as sete grandes potências europeias: Rússia, Grã-Bretanha, França, Áustria, Hungria, Itália e Alemanha. Porém, ninguém aventava a possibilidade da queda iminente da civilização cristã tradicional, como foi previsto pelo Papa São Pio X. Mesmo o seu confidente íntimo, o Cardeal Merry del Val, sentiu-se perdido e estarrecido com a insistência do Papa sobre o que ele profetizara: a miséria resultante da Guerra Mundial e a consequente perda dos valores cristãos que adviriam sobre a humanidade.
Na noite de 28 de junho de 1914, o Papa sentia-se apreensivo e solicitou a presença do cardeal Merry del Val, que atemorizou-se com a aparência do Santo Padre, pois o medo e a preocupação dominavam suas feições. A mão que Pio X estendeu tremia, quando sussurrou: "Il Guerone (Grande Guerra) está por vir, e não vamos terminar este ano em paz". Uma batida na porta interrompeu a conversa! E uma missiva foi entregue ao Papa que, com sua mão trêmula, a deixou cair. Merry del Val pegou o papel e leu que o herdeiro austríaco e sua esposa foram assassinados.
Ainda não entendendo as graves implicações do fato, o Cardeal Merry del Val tentou atenuar a ansiedade do Santo Padre argumentando que um evento como este não desencadearia uma guerra mundial. Mas Pio X, agora extremamente cansado, apenas expressou: "Meu Senhor"! E dirigindo-se à capela do Vaticano caiu de joelhos diante do tabernáculo. Claramente o Papa Pio X profetizara a situação precária das alianças europeias, as quais não seriam capazes de ignorar um evento tão chocante como o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand.
Em 30 de maio de 1914, o embaixador brasileiro Dr. Chaves relatou ao Papa Pio X que não tinha dúvidas da repercussão dos eventos mundiais. Porém, no decorrer da conversa, o Papa perguntou: "Você deve estar feliz por poder voltar para o Brasil, pois assim você não vai ser uma testemunha da guerra!" Respondeu o embaixador: "A sua Santidade fala sobre o conflito dos Balcãs?" Respondeu o Papa desanimado: "Não, não, o problema dos Balcãs é apenas o começo de uma conflagração mundial que não posso evitar".
Naquela época, Pio X pregava: "Nosso programa é renovar tudo em Cristo, pois Jesus é a Verdade, e será o nosso primeiro dever ensinar esta Verdade - mas explicando numa linguagem simples que penetrará nas almas de todos. Mas desculpou-se Pio X: "Estamos convencidos de que muitos irão ressentir-se da nossa intenção de tomar parte ativa na política mundial, mas qualquer observador imparcial perceberá que o Papa, a quem o cargo supremo foi confiado por Deus, não será indiferente aos assuntos políticos ou mesmo separá-los das atribuições da Fé e da moral".
O Congresso Eucarístico da época foi um grande evento que reuniu o mundo, todos unidos em espírito e oração - encerrando com o canto do hino eucarístico de louvor escrito por São Tomás de Aquino, "Tantum Ergo". Porém, as armas da guerra já eram ouvidas sobre as fronteiras - mas Deus iria responder às orações dos fiéis à Sua maneira! Nos últimos dias de julho daquele ano fatídico, o Cardeal di Belmonte voltou para Roma e afirmou que Pio X, apesar da crescente onda de ódios nacionais, era muito amado em todas as nações da Terra.
O tempo da "Religio Depopulata" aproximava-se rapidamente! Em 02 de agosto o Papa lançou uma advertência, pedindo seriamente que todos orassem pelo destino da humanidade. Porém, Pio X estava esgotado pela tristeza e preocupação, não tendo mais forças para falar às multidões. Mesmo assim, insistiu e declarou: "Meus filhos, eu sofro por aqueles que morrem nos campos de batalha. Eu sinto que esta guerra é a minha morte, mas alegremente ofereço a minha vida pelos jovens e a paz mundial".
Pio X mal dormia, entretanto sua saúde parecia muito boa. Depois de conceder uma última audiência na Festa da Assunção, o Papa acamou-se com uma febre leve em 19 de agosto, mas completamente prostrado. Ele percebeu a gravidade da situação e disse: "Que a vontade de Deus seja feita, acho que é o fim. Talvez Ele, em Sua bondade, deseje poupar-me dos horrores que irão abater-se sobre a Europa". Naquela tarde, o Cardeal Merry del Val soube que o Papa sofria de pneumonia, sem esperanças de recuperação, e disse: "Ele desgastou-se muito para conseguir resistir a uma doença grave".
De acordo com o médico, Dr. Machiafva, estas foram as últimas palavras de Giuseppe Melchior Sarto: "Ofereço minha vida como um sacrifício para prevenir o massacre de tantos dos meus filhos". Nas primeiras horas de 20 de agosto de 1914, os sinos tocaram por toda a Roma indicando a agonia final do Santo Papa Pio X, quando ele professou suas últimas palavras no dialeto veneziano: "Gesu, Giuseppe e Maria, vi dono il cuore de l’anima mia!" (Jesus, José e Maria, eu entrego a vós o coração da minha alma!). O católico, o camponês, o pontífice e o amante de tantas almas humanas eram agora um só, no momento da perfeita e total auto-rendição.
1 comentários:
Nosso Santo e Único Papa, abençoai nossas vidas!
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