Jesus disse: "Ouvistes que foi dito, olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal. Mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E, ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa. E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes".
Esse sim foi realmente um ensinamento revolucionário! Não era assim que os gentios viviam, e nem os judeus. E, lamentavelmente, a maioria dos que confessam o Cristianismo também não vivem segundo este ensinamento. O grupo de mandamentos que acabamos de ler exige uma conduta passiva.
Não resista a quem é mau. Ofereça-lhe a outra face. Quem quiser pleitear com você e lhe tirar a túnica, deixe também que leve a capa. Se alguém obrigá-lo a levar uma carga por um quilômetro, leve-a por dois quilômetros. Ao que lhe pedir, dê a ele o que pediu. Estes mandamentos postos em prática são o que às vezes chamamos de não-resistência.
No entanto, também há uma parte ativa no ensino de Jesus: "Ouvistes que foi dito que amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém vos digo, amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus, porque Ele faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus".
Não basta apenas sermos não-resistentes. Nós Cristãos também temos que ser ativos, mostrando amor a quem anteriormente considerávamos como inimigo. Se alguém nos odeia, devemos procurar saber primeiro a razão. Talvez possamos esclarecer o problema para que nosso inimigo se converta em nosso amigo.
Jesus nos disse: "Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta". Assim, como cidadãos do Reino de Deus, temos que fazer tudo ao nosso alcance para estarmos em paz com os outros. Jesus disse: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus".
Em nossos afazeres diários, no trabalho, com os vizinhos e amigos, sempre há ofensas, discussões e controvérsias. Se nós fizermos parte de tais disputas, devemos ser os primeiros a procurar a paz. Inclusive quando estamos convictos de que temos a razão. A não-resistência não é simplesmente uma doutrina teológica, é um estilo de vida. Afeta todo tipo de interação diária com outras pessoas. No entanto, ser não-resistente não significa ser um covarde ou um fraco.
Jesus e Paulo foram não-resistentes. Todavia, nenhum dos dois foi um covarde ou um frouxo. Ambos foram muito enérgicos e francos. Mas os dois preferiram receber feridas em lugar de ferir a outra pessoa. Ambos denunciaram o mal, mas não resistiram ao mal com a força física. Lembrem quantas vezes Paulo foi açoitado e apedrejado! Paulo podia ter-se armado e viajado com um grupo de guarda-costas corpulentos. Mas não, Paulo foi um dos homens mais valentes que já existiu, mas não resistiu ao mal com a força física.
São Paulo disse posteriormente: "Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas". Paulo foi um tipo de guerreiro diferente, um guerreiro de um Reino com valores únicos. Na maioria das vezes, quem açoitava e apedrejava Paulo eram as multidões que agiam sem o consentimento da lei. Como cidadão romano, Paulo poderia ter processado aqueles que ilicitamente o açoitaram ou apedrejaram. Mas não o fez. Ele ofereceu a outra face.
Jesus disse que, quando alguém quiser pleitear conosco com o objetivo de nos tirar a túnica, que lhe entreguemos também a capa. Portanto, disso pode-se deduzir que se alguém simplesmente se apoderar de nossa túnica, não devemos levá-lo à justiça para recuperá-la. Como disse Jesus, dá a quem te pedir. Ao mesmo tempo, Paulo demonstrou que não é errado os Cristãos se valerem da proteção que o governo lhes oferece quando são perseguidos. Por exemplo, Paulo livrou-se de açoites ao perguntar ao centurião romano: "É-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado?"
Paulo reafirmou o ensinamento de Jesus em sua epístola aos coríntios: "Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os Santos? Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um que possa julgar entre seus irmãos? Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isto perante infiéis. Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas uns contra os outros. Porque não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?"
A não-resistência é totalmente contrária à nossa carne corrompida, por isso temos que reaprender. Sem a menor dúvida não é algo com o qual nascemos. A não-resistência e o amar a nossos inimigos são talvez os ensinamentos mais difíceis e os mais revolucionários de Jesus. Ambos são exatamente o oposto da mensagem que o mundo ensina.
Não resistir ao mal? Nossos pais, escolas, governos e igrejas nos inculcam exatamente o contrário: Lute por seus direitos! Não se deixe intimidar! Os heróis que eles recomendam que imitemos quase nunca são pessoas não-resistentes. Não, geralmente são pessoas que se levantaram contra seus inimigos e a eles resistiram.
É importante compreendermos que os ensinamentos de Jesus sobre a não-resistência têm sentido somente para os que já aceitaram seus outros ensinamentos, tais como: "Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo".
Quando renunciamos a tudo, sobra muito pouco pelo qual devamos lutar, não é verdade? Até quando se trata de nossa própria vida, Jesus nos disse: "Quem achar a sua vida perde-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, acha-la-á". Jesus disse a Pilatos: "Se o meu Reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos".
Podemos deduzir que se temos um reino que pode ser defendido mediante a luta física, nosso reino é do mundo, certo? Não importa se tratamos de bens pessoais, de uma casa ou de uma nação, a situação é a mesma. Se temos interesses ou parte neste mundo, sem dúvida nos veremos tentados a lutar para protegê-los. Quando tentamos reconciliar os ensinamentos de Jesus com o apego aos bens materiais, ao poder terrestre ou ao orgulho nacional, percebemos que é impossível. Estamos tentando reconciliar duas coisas que são essencialmente irreconciliáveis.
0 comentários:
Postar um comentário