No silêncio da noite, interrompido apenas pelo crepitar da lenha consumida pelo fogo que se refletia tremeluzente nos olhos cinza-azulados e na fisionomia firme de Jesus, os discípulos reuniram-se ao Seu redor para conversar e aprender.
Havia uma progressão profunda nos Ensinamentos de Jesus desde o primeiro debate sobre a "perfeição que Deus exige dos homens", e uma aparente urgência quando declarou que a justiça dos escribas e fariseus não seria suficiente para alcançar o grau máximo naquela virtude.
Os discípulos ficaram impressionados com este alto padrão a ponto de questionarem se poderiam ser salvos. Mas neste momento histórico tinham suas mentes voltadas para a responsabilidade de formar o apostolado e anunciar os Ensinamentos — um pedido de Jesus durante a peregrinação de estudos à cidade de Cesareia.
Foi na histórica Cesareia que Simão Pedro, o apóstolo responsável pela fundação da Igreja de Jesus Cristo, compartilhou o Evangelho com o centurião romano Cornélio, que tornou-se historicamente conhecido como o primeiro gentio a converter-se ao Cristianismo.
Assim, os discípulos de Jesus deveriam preparar-se para debater com os líderes religiosos do Templo, aprendendo tanto quanto possível sobre as leis dos profetas e conhecendo os temas mais debatidos entre os sacerdotes e os escribas hebreus.
Mas Jesus precisava que os apóstolos compreendessem que apenas o debate religioso não convenceria os religiosos de que Ele era o verdadeiro Messias, o Filho de Deus.
Neste ponto, os discípulos começaram a refletir como os líderes religiosos interpretaram mal — em um grau além da imaginação — as profecias sobre a vinda do messias dos hebreus e como foram distorcidas para conter crenças pessoais e preconceitos.
Eles discutiram sobre o fato das leis mosaicas, escritas para orientar a humanidade, terem sido mal interpretadas e questionaram porque os líderes religiosos modificaram a Palavra de Deus de tal maneira.
Argumentaram com sabedoria como o Deus Verdadeiro difundiu Sua Palavra para alcançar e tocar com ternura o coração dos homens, para que estes também aprendessem a compartilhar Seu amor com o próximo.
Os discípulos observaram atentamente a dança da luz da fogueira refletindo-se no semblante sério de Jesus — o único Homem justo sobre a face da Terra — que serenamente fitava além deles, buscando a Sabedoria Divina numa comunhão íntima com Seu Pai.
Com grande intensidade e brandura Jesus advertiu-os sobre o falso messias que viria em Seu nome e alertou-os para não serem enganados. Então, Jesus olhou profunda e pausadamente para cada um dos discípulos e foi revelado que Jesus era o Verdadeiro Messias, o Deus Vivo na Terra.
Os apóstolos aprenderam a confiar nos exemplos do Mestre e não misturar Seus Ensinamentos com as tradições do mundo. Naquela noite, durante a última reunião com Seus queridos irmãos, Jesus contou que "deveria ir a Jerusalém" para cumprir os desígnios do Pai, e que na cidade que O acolheu sofreria injustiças e calúnias perpetradas pelos anciãos — principais sacerdotes — e escribas.
Jesus confirmou que seria crucificado e que no terceiro dia ressuscitaria para encontrar Seu Pai. Estas palavras finalmente desvendaram o mistério da Sua missão na Terra — Jesus veio como o Salvador e Redentor da humanidade!
A frase "deveria ir a Jerusalém" significava a necessidade Divina, uma vez que era imperativo atender ao pedido do Pai, porque o Filho do Homem precisava ser condenado à morte e a Profecia do Deus Pai deveria ser cumprida na sua totalidade, cada ponto e vírgula dela!
Podemos perceber que Jesus não estava ensinando um novo padrão de conduta ou uma nova regra de vida, pois Suas declarações eram provenientes diretamente da Lei Mosaica. O código mosaico era dividido em leis morais, civis, religiosas e cerimoniais, todas reveladas no Antigo Testamento.
Os discípulos aprenderam a admirar e respeitar os líderes religiosos porque pareciam possuir um entendimento superior das Escrituras. Estes sacerdotes citavam textos e sabiam quando os Testamentos foram escritos e quem os escreveu.
Estes religiosos conheciam o pano de fundo histórico e as circunstâncias que cercavam os personagens, parecendo conhecer a correta interpretação dos símbolos e passagens. Suas vidas e ações giravam em torno das Escrituras! No entanto, parecia estranho que todos os religiosos hebreus ensinassem da mesma forma apesar dos pontos de vista discordantes.
Porque cada uma das facções religiosas agia como se a salvação dependesse da crença adequada a uma interpretação particular, pensaram os discípulos. Então passaram a debater sobre estas diferentes interpretações e compreenderam que nenhum dos sacerdotes concordava com a Vinda e com os Ensinamentos de Jesus.
Mas Jesus não veio para acabar com a ética do Antigo Testamento, pois Ele apenas tornou seu significado mais claro e suas demandas mais radicais. Ele veio para engrandecer a Lei e demonstrar o que significa amar ao próximo como amamos a nós mesmos!
Assim ensinou Jesus: "Não penseis que vim abolir a Lei e os profetas, não vim suprimir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o Céu e a Terra passem, nem um ponto da Lei passará até que tudo seja cumprido".
Jesus não queria acabar com a velha ética, mas ampliá-la e aprimorá-la. Esta ampliação das Leis não mudou o objetivo do Antigo Testamento e sim tornou-o mais distinto — agora todos os detalhes destacam-se com uma clareza surpreendente!
Jesus ensinou que o único tipo de justiça aceitável era conduzir-se com retidão durante a vida na Terra. Os discípulos, confrontados com este pré-requisito, perceberam sua condição faltosa e perguntaram como seriam salvos.
Então Jesus foi mais específico e citou os Mandamentos e Leis do Antigo Testamento. Todas essas disposições apresentadas por Jesus formavam a Lei Mosaica revelada no Pentateuco — os cinco primeiros livros do Velho Testamento (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Assim, os apóstolos retomaram o estudo das Escrituras.
Quando Jesus mencionou aos apóstolos sobre a ameaça e os rumores de guerra, mas dizendo-lhes para não entrar em pânico, eles acabaram por levar muito a sério a profecia. Mas agora, mais relaxados, puseram-se a devanear, e seus pensamentos divagaram para uma série de diferentes eventos históricos:
Para o tempo das guerras antigas onde os exemplos de sabedoria nunca poderiam ser mal interpretados. Lembraram quando Abraão perseguiu os amoritas — povos semitas que habitavam a Síria e Palestina no III milênio a.C. — e como apenas 320 homens armados derrotaram os exércitos assírios.
Também recordaram da batalha ao redor de Eliseu, cheia de cavalos e carros de fogo, e como Elias enfrentou os guerreiros de Baal. Lembraram-se quando a Assíria vangloriou-se das vitórias dando crédito aos seus deuses, e como foi derrotada por um anjo que enfrentou 200.000 assírios em uma noite.
E quando o Senhor deu a vitória a Abraão que libertou todos os habitantes de Sodoma sem nenhuma perda de vida. Recordaram quando Gideão e seus homens venceram os midianitas e como o Senhor apareceu a Josué antes de Jericó ser conquistada.
Refletiram sobre o fato de que Deus nunca deixou Seus seguidores passarem por aflições e constrangimentos. Argumentaram animados como Deus protegeu Seu povo nas guerras, durante a fome, pestes e tragédias, não importando quando ou onde eles estivessem.
Novamente imersos na paz do silêncio da noite e tendo por companhia Jesus, os discípulos silenciaram-se, satisfeitos com suas descobertas. Então Jesus seriamente perguntou: "Mas vós, que dizeis quem eu sou?" Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus".
JESUS CRISTO NÃO ERA JUDEU
2 comentários:
Um texto maravilhoso e comovente. Fui transportado até a época de Jesus e sentei-me ao Seu lado, em volta da fogueira. Deus lhe guarde.
Ah, também senti isto!
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