O Modernismo, um movimento reformista que reinterpretou a doutrina tradicional do catolicismo e os conceitos filosóficos e científicos à luz da modernidade iluminista, reduziu o ser humano a um estado de paranoia crônica movido pela crença de que por meio da razão poderia interatuar nas obras de Deus e na Realidade Única. Assim, uma nova espécie humana ressurgiu: o homem psicológico e sua perturbação moral ou intelectual.
As consequências adversas da visão niilista que considerava as crenças e valores tradicionais como infundados, só poderia ser respondida em bases metafísicas desconhecidas, a não ser pelas tradições sapienciais da humanidade como o Cristianismo e o platonismo. Mas o nilismo forçou uma questão obviamente clara: "Será que a evolução das massas orgânicas vagando sem propósito da teoria evolucionista de Darwin é uma conclusão legítima?"
Charles Darwin observou as discrepâncias morfológicas entre as espécies de tentilhões nas Ilhas Galápagos e, a partir deste fato, submeteu uma publicação das suas conclusões entre o meio científico, incorrendo na condição da 'Teoria da Falseabilidade de Karl Popper'. Karl Raimund Popper foi um filósofo e professor britânico que estabeleceu em qual situação uma teoria seria considerada verdadeira: "Se uma teoria for impossível de ser refutada por meio da experiência ela deve ser considerada como um mito".
Quando nos deparamos com o ambiente natural explicado pelo bom senso da Criação, repleto de sons e cores, habitado por seres sensíveis com os quais podemos interagir, nos comunicar, amar e resguardá-los, torna-se indiscutível o empobrecimento e o impacto desumanizador infligido à civilização pela cosmovisão evolucionista - para não falar do preço a ser pago pelo dogma estigmatizado que nunca foi comprovado na prática.
A inexistência de fósseis intermediários nos terrenos fossilíferos dos estratos pré-cambrianos era o maior temor de Darwin, mas também tornou-se o argumento dos cientistas para expor a teoria evolucionista. "As espécies não exibem nenhuma mudança evolutiva durante a sua passagem na Terra, pois aparecem no registro fóssil com a mesma aparência de quando foram extintas", foi a conclusão da banca examinadora. Assim, o status da teoria de Darwin como uma hipótese viável não poderia mais ser reivindicado.
Porém o darwinismo conquistou a comunidade científica da época e até Friedrich Engels e Karl Marx, os defensores incondicionais do materialismo dialético, doutrina marxista também encontrada nos escritos de Charles Darwin. Mas a evolução darwinista não era mais uma hipótese a ser verificada, porque transformara-se num dogma a ser justificado. A partir deste ponto, foi propagado nas escolas, universidades e defendido aonde surgisse qualquer oposição - fato atestado pelo modus operandi dos partidários que neutralizavam qualquer resposta adversa ao darwinismo.
O evolucionismo de Darwin foi concebível e aceito devido à ignorância profunda e desconhecimento dos fatos biológicos que permitiriam descartá-lo a priori. Apesar do caráter puramente especulativo o evolucionismo alcançou o status de paradigma, garantindo que só seria invalidado se um candidato sobrejacente ocupasse seu lugar. Mas nas primeiras décadas do século XX surgiu um gênero 'teísta' da evolução - creatio ex nihilo - de modo que a intervenção divina passou a fazer parte da equação.
A evolução teísta presumia que Deus projetou a natureza com uma função lógica, para que as estruturas físicas e os organismos biológicos pudessem evoluir naturalmente. Mas também poderia significar uma evolução formativa completa de todas as criaturas biológicas durante a História, ou mesmo referir-se a uma evolução formativa com espaçadas intervenções do Criador sobre a conformação do Universo: evolução astronômica, geológica, química e biológica!
Mas esta estranha novidade mimetizou-se e metamorfoseou-se em formas que mesmo os escritores de ficção científica nunca poderiam ter imaginado, resultando numa nova doutrina herética, o teísmo darwiniano! De uma forma ou de outra, seja do lado do bem ou do mal, a concepção do novo evolucionismo sobreviveu e prosperou através do paleontólogo e jesuíta de origem francesa, Pierre Teilhard de Chardin, que implementou a transição por meio do impacto dos seus escritos apócrifos e heterodoxos.
Ignorando as premissas habituais da teologia e das ciências aplicadas, os escritos de Pierre de Chardin espalharam-se como um incêndio nos círculos cristãos da época do Concílio Vaticano II, cujo resultado influenciaram decisivamente. A característica marcante de Chardin foi o uso sem precedentes de metáforas inebriantes que 'hipnotizaram' os leitores, e até as camadas mais educadas da sociedade ocidental - permanecendo como parte da nossa cultura mesmo depois que suas 'palavras enganadoras' foram esquecidas.
O estranho jesuíta infiltrou-se no desacordo entre o criacionismo e o evolucionismo com o conceito do neodarwinismo teísta, e situou o Deus cristão na sua alegoria evolucionista. Esta transição foi percebida como mais ou menos inócua pelos darwinistas convencionais, presumivelmente porque era totalmente ridícula, mas para os evolucionistas em apuros foi um presente enviado do céu. Não é de admirar que um coro de aplausos tenha vindo detrás das muralhas do Vaticano!
Assim, a doutrina da evolução teísta estabeleceu-se em vários segmentos do mundo ocidental, e nos círculos científicos do Vaticano alcançou o status de uma nova ortodoxia cristã. O segmento da intelectualidade cristã já havia sido persuadido de que Deus cria por meio da evolução e fornecendo o impulso final para produzir uma 'origem das espécies darwiniana autêntica'. Alguma intelligentsia cristã do Vaticano sugeriu que talvez Deus interferisse na supressão automática das espécies de modo a tornar o extrato terrestre indetectável para os geólogos!
Conforme as questões teológicas decorrentes da evolução teísta minavam a crença na queda de Adão e Eva pelo pecado original, e nas outras crenças do Antigo Testamento claramente reescrito durante a edição da Bíblia do Rei James realizada em benefício da Igreja Anglicana, os evolucionistas teístas tentaram reconciliar os problemas permanecendo dentro dos limites do historicismo bíblico. Pierre de Chardin também estava determinado a reinventar o cristianismo para encaixá-lo no seu mundo delirante baseado no evolucionismo como ideia central.
Segundo Chardin, a evolução não era simplesmente uma teoria científica, mas a rocha sobre a qual ele fundaria toda a sua doutrina, e relatou: "A evolução é uma teoria, um sistema ou uma hipótese? É muito mais, é a condição geral à qual todas as teorias, todas as hipóteses e todos os sistemas devem se submeter e nos satisfazer daqui em diante se quiserem ser pensáveis e verdadeiros. A evolução é uma luz que ilumina todos os fatos, uma curva que todas as linhas devem seguir".[sic]
Embora os evolucionistas teístas tivessem alguma preocupação com a ortodoxia teológica, muitos foram influenciados por Chardin a ponto de ajustar sua teologia para adequar-se às suposições evolutivas, em vez de manter a teologia ortodoxa ao explorar questões para as quais a prova permanece ilusória na melhor das hipóteses. Pierre de Chardin enfrentou sérios conflitos com a Igreja Católica por causa das suas ideias especulativas, mas não foi excomungado ou declarado herege!
A nova religião apregoada por Chardin encaixava-se na definição de cientificismo, pois também criticou o Cristianismo por não ser mais científico. No entanto, a religião de Chardin misturava as noções espirituais improváveis da Nova Era com suas crenças supostamente científicas. Ele blasfemou e rejeitou a Ressurreição, os Santos, os milagres e incentivou a 'convergência cósmica' e a 'emergência crística' entre outras idéias mirabolantes. Morreu solitário em 1955, domingo de Páscoa, na cidade de Nova York.
Deus criou as plantas e os animais cada um segundo a sua própria espécie, e não criou um peixe que se transformaria num sapo ou chimpanzé! Mas isso não quer dizer que os tipos primordiais não tenham sobrevivido até os dias atuais em suas formas originais, pois não há qualquer dúvida de que ocorreram variações e evoluções adaptativas originando o atual panorama composto por diferentes formas de vida. O elemento causal é denominado de microevolução cuja realidade ninguém duvida, ou seja: "O conjunto de eventos evolutivos que afetam as espécies e consistem em mudanças nas frequências gênicas e no número ou estrutura dos cromossomos no espaço de poucas gerações".
Alternando da teologia para a metafísica descobre-se que o caso do evolucionismo vs. criacionismo não melhora, pois quando a tradição platônica coloca o objeto real no plano do inteligível o evolucionismo 'está morto ao chegar'. Neste sistema filosófico não existe a evolução desde que não há tempo para nenhuma mudança ou alteração de qualquer tipo. Portanto, a ontologia aristotélica não é mais amiga de Darwin do que a platônica que, embora permita mudanças, exclui a evolução categoricamente.
Tomemos como exemplo o nosso peixe! Ele deriva o seu ser, suas características, sua propriedade intrínseca e a qualidade de peixe, da denominada forma substancial. Para transformar-se em sapo ou num chimpanzé ele deveria transfazer-se, mas mesmo que conseguisse ele não mudaria porque não pode; e pela simples razão de que a sua própria essência deriva do reino inteligível aonde o tempo não mais existe. Como a realidade origina-se do mundo inteligível, no reino eterno dos arquétipos nunca poderá haver alterações significativas!
1 comentários:
Brilhante exposição metafísica e didática, voltarei mais vezes neste blog!
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