16 agosto 2021

VIKINGS, OS SAQUEADORES - VIKINGS, THE LOOTERS

VIKINGS-SAQUEADORES

A mitologia nórdica há muito tempo capturou a imaginação popular, e reconhecemos nas suas histórias recheadas com deuses pagãos seus mentores vikings: Ragnar Lodbrok, Björn Ironside, Ivar the Boneless, os líderes de um povo escandinavo formado por navegadores guerreiros que visavam impiedosamente as Igrejas e os mosteiros.

A Era Viking, situada entre os séculos VIII a XI, teve início na invasão da costa leste da Britannia, e quando terminou os vikings já eram adeptos do Cristianismo, o que é surpreendente e inesperado, especialmente porque suas batalhas sangrentas sempre foram consideradas uma luta entre o paganismo e a cristandade.

Mas isto é apenas parte da história, porque os vikings também difundiram a Fé cristã. Na Escandinávia, a Noruega e a Suécia converteram-se tardiamente ao Cristianismo, e existem obras fascinantes na literatura nórdica que apresentam temas cristãos complexos, incluindo as sagas dos santos nórdicos.

O paganismo dos vikings nem sempre era um problema para as comunidades cristãs. Um exemplo do pluralismo religioso encontra-se na arqueologia, onde um molde de pedra-sabão do século X indicou a fundição de um amuleto de metal composto pelo martelo de Thor (Mjolnir) ao lado de duas cruzes - um adereço na forma de pendente.

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O primeiro rei escandinavo convertido foi o dinamarquês Harald Klak. Ele foi batizado em 826 AD a pedido do imperador carolíngio Luís, o Piedoso, em troca do seu apoio na tentativa de recuperar o trono. Guthrum, um rei Viking do século IX, foi batizado após sua derrota para o rei da Saxônia, 'Alfredo, o Grande', em 878 AD.

Os reis cristãos não estavam preocupados com as almas dos vikings, e sim encontrar um meio de garantir a paz. Esperava-se que a inclusão dos vikings na Fé pudesse exercer alguma influência neste processo. Porém, muitos nobres e bispos eram contra os tratados com os pagãos, mas os reis supunham que o batismo poderia fazer diferença.

Gradualmente o desdém dos vikings pelo Cristianismo mudou, e uma das razões foi que as forças cristãs começaram a vencer as batalhas e ganhar o respeito dos adversários. Os reis, Alfredo da Grã-Bretanha, Constantino da Escócia e Mael Sechnaill da Irlanda, desenvolveram estratégias que derrubaram a mística da invencibilidade dos vikings.

Mas o que realmente mudou sua opinião sobre os cristãos foi o contato com o Império Bizantino. A partir do século IX os vikings invadiram Constantinopla, a capital do Império Bizantino, que era a cidade mais magnífica que os vikings haviam visto. Era opulentamente rica e foi a primeira potência naval capaz de enfrentá-los e vencer os confrontos.

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Um dos pontos de inflexão mais significativos da cristianização dos vikings foi a conversão do Rei Harald Bluetooth em 960 AD. *A atual tecnologia bluetooth ganhou o sobrenome 
do Rei Harald devido à sua capacidade de unir partes díspares da Dinamarca na época, assim como o bluetooth uniu vários dispositivos de comunicação*.

Quando os vikings conheceram os reinos cristãos centralizados e ordenados, o exemplo desencadeou a unificação dos reinos escandinavos. Assim, mais nórdicos eram convertidos pelos próprios vikings do que pelos reis cristãos - os reis Harald Gormsson e Olaf Tryggvason aceitaram sua conversão visando a coesão dos vikings.

As populações das ilhas remotas do Atlântico Norte juntaram-se à corrente principal europeia, a conversão cristã, devido à pressão da Noruega. A Islândia converteu-se ao Cristianismo em 1000 AD após consultar sua assembléia nacional, mas as práticas pagãs ainda eram toleradas.

A Noruega cristianizou-se devido aos reis Olaf Tryggvason e Olaf Haraldsson, que foi canonizado após sua morte em 1030 AD tornando-se o primeiro santo padroeiro da nação. Haraldsson gravou um texto rúnico na 'Pedra de Jelling' afirmando que tornou os nórdicos um povo cristão.

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Os povos do norte se beneficiaram da associação com Olaf Haraldsson, e outros santos vikings surgiram: São Erik na Suécia e São Knud na Dinamarca. O condado de Orkney no arquipélago ao Norte da Escócia, produziu um mártir na família governante: São Magnus, morto por volta de 1116 AD numa disputa dinástica.

No início do século XI, o imperador bizantino Basil II, o Bulgar assassino, instituiu a Guarda Varangian; uma unidade de elite composta por vikings. Embora tenha sido inicialmente formada por suecos e Rus da Europa Oriental, a Guarda Varangiana logo atrairia os guerreiros nórdicos do mundo viking.

Simultaneamente, os religiosos cristãos desgostosos com a incapacidade dos seus Reis de defendê-los, começaram a liderar os exércitos nas batalhas. Vários bispos e abades descendiam de famílias nobres, e portanto mantinham um extenso conhecimento militar. Assim, tornaram-se líderes carismáticos que venceram várias batalhas contra os vikings.

A invasão viking impulsionou a construção das torres nos monastérios, como em Glendalough na Irlanda. Líderes natos, como o bispo Heahmund de Wessex, morreram heroicamente nas batalhas. Os vikings perceberam estes fatos, e isto os levou a intuir que o Deus cristão era um 'deus da guerra' que deveriam respeitar.

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Os vikings mais habilidosos distinguiram-se nas carreiras à serviço dos Reis cristãos, ganhando tremendo prestígio, glória e muita riqueza que acumulavam para o futuro. Estes vikings cristianizados não voltavam para casa apenas com seu ouro e as histórias para contar, pois também traziam uma perspectiva e a compreensão mais profunda do mundo exterior.

Estas batalhas não eram tão diferentes dos ataques viking aleatórios, a não ser que a matança e o saque tinham o apoio dos Reis cristãos. Agora, em vez de uma vida após a morte imersos nos festejos da Valhalla como recompensa por morrer em batalha, os vikings poderiam desfrutar de uma viagem sem escalas até o paraíso!

Os vikings não se importavam se acabariam no Céu ou na Valhalla, pois quando atacavam, geralmente movidos pela infusão de plantas alucinógenas, levavam tudo que podiam carregar, incluindo as pessoas como prêmio. Os vikings eram notórios escravizadores e vendiam os cativos nos fervilhantes mercados islâmicos.

Os vikings podem ser lembrados pelas notórias expansões marítimas que atingiram diversos territórios do mundo, dentre eles a Inglaterra, Escócia, França, Rússia, Irlanda, Islândia e a Groenlândia. Em 1000 AD, criaram uma  colônia de enraizamento na América do Norte e na costa leste do Canadá.

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Eles permaneciam cada vez mais nas terras que invadiam e muitas vezes criavam laços com os nativos. Por exemplo, os anais irlandeses mencionam grupos de nórdicos já integrados desde o século IX. Pesquisas de DNA revelaram que cerca de 25% dos homens e 50% das mulheres da Islândia descendem dos vikings.

Os vikings continuaram politeístas e as sagas islandesas refletem o fato. Um exemplo é encontrado na Saga de Erik, o Vermelho, quando Leif Erikson converte sua mãe ao Cristianismo e ela se recusa a dormir com o marido até que ele se converta - uma grande provação para o velho arredio!

Muitos dos vikings convertidos apenas incorporaram Jesus no seu historismo em vez de rejeitar completamente seus antigos hábitos pagãos. Encontramos este provérbio nas sagas vikings: 'Em terra adoro Cristo, mas no mar adoro Thor'. Mas isto não era apostasia, mas sim a mente politeísta adotando o pragmatismo.

Existem exemplos do politeísmo destes novos cristãos no registro viking, pois quando o Rei norueguês Rolphus encontrava-se à beira da morte e doou 100 libras de ouro para a Igreja cristã local, também executou cem prisioneiros como um sacrifício a Odin. Os vikings demoravam três gerações em média para descobrir o significado e aceitar o monoteísmo cristão!

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Os cristãos convenceram os nórdicos que seus deuses eram espíritos inferiores, mas como eram os deuses dos ancestrais, foi impossível removê-los da identidade cultural. E desta forma, Odin, Freyr, Frigga, Tyr, Vidar, Thor, etc, continuaram vivos. Porém, ao longo dos séculos, seus descendentes aceitaram que eram lendas, mas nos dias atuais ainda não é uma opção popular!

A ideia de que os antigos deuses carregam 'poderes alternativos' enraizou-se nas lendas islandesas, como as do grimório de Galdrabok, o manual completo da magia nórdica. Porém, os nórdicos da Era Viking tiveram uma visão diferente, pois sustentavam que embora seus deuses servissem ao seu propósito, o tempo os havia apagado.

Mas na verdade o mundo viking ainda era povoado pelos reis, bispos e santos missionários convivendo com os antigos deuses e gigantes. Por exemplo, o filho de Odin, Baldur, que carregava uma natureza bondosa e sofreu uma morte injusta, tornou-se figurativamente associado à Jesus Cristo.

Na época em que Snorri Sturluson e outros islandeses estavam escrevendo as sagas e a poesia dos ancestrais, laços simbólicos e temas cristãos foram adicionados à este antigo cenário. Os vikings achavam que as qualidades de Odin eram semelhantes às do Deus do Antigo Testamento.

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Evidências do sincretismo religioso e cultural são evidentes nas tradições dos feriados, como o Natal cristão e o Yule nórdico - uma comemoração pré-cristã. No início do século XII a Dinamarca construíra 2000 igrejas, e a Noruega e Suécia juntas perto de 1000. A Suécia manteve o paganismo por mais tempo devido ao seu isolamento.

Geralmente os arqueólogos determinam a conversão cristã completa desde a religião nativa observando as práticas de sepultamento dos povos. Com base nestas descobertas, a Dinamarca, Suécia e a Noruega, já eram nações cristãs no final do século XII, sem diferenças na transição religiosa em relação aos seus vizinhos.

O conflito de valores entre o paganismo e o Cristianismo foi uma característica determinante da Era Viking. Os nórdicos começaram a adotar o Cristianismo em resposta à mudança de consciência e expansão global do mundo cristão. Porém, o Cristianismo não determinou o fim da Era Viking ou induziu a extinção dos vikings!

Algumas das batalhas mais épicas do passado foram travadas por vikings cristianizados. A Inglaterra, a França e Bizâncio usaram o apelo da religião para aproveitar a energia dos vikings nas batalhas, e seus reis usaram sua força para avançarem na busca pelo poder. Mas tudo isto resultou numa imagem imprecisa dos vikings.

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Durante sua existência eles exploraram os oceanos, comercializaram nos lugares mais distantes do globo e lutaram contra todos que aportaram nas suas terras. Aceitaram os cristãos e outros pagãos com cautela, mas participaram ativamente dos conflitos por eles criados. Afinal, eles gostavam de viver em pé de guerra!

Apesar da sua natureza feroz e sociopática, eles tentaram maneiras diferentes de entender e conviver com as diferentes formas culturais, religiosas e o misticismo da Era das Trevas. E mesmo quando o contato entre as duas religiões díspares da época tornou-se violento, acabou resultando numa sinergia inesperada.

No entardecer da Era Viking, as nações mantinham uma autoridade central com exércitos aptos a criar defesas eficazes. Os guerreiros vikings não possuíam tropas organizadas e suas táticas eram ineficazes contra os soldados treinados e apoiados pelos Reis cristãos.

Os alvos mais desejáveis dos vikings ​​foram fortificados ou modificados, tornando-os menos suscetíveis às incursões dos nórdicos. Os mosteiros construíram grandes torres de fácil defesa que serviam como local de guarda para objetos de valor e abrigo para as pessoas no caso de uma invasão.

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A Igreja cristã chegou oficialmente à Escandinávia no final da Era Viking, e a falta de acordo sobre alguns princípios culturais resultou na perda de prestígio dos vikings como combatentes. Ólafr Haraldsson pediu que Björn Ironside desistisse das guerras, e insistiu: 'Embora você ache que isso lhe convém, a lei de Deus está sendo violada'.

A Era Viking terminou quando as hostilidades cessaram, e 1066 AD foi o ano do seu epílogo. Na Batalha de Stamford Bridge o Rei norueguês Harald Fairhair foi morto enquanto tentava recuperar uma parte perdida da Inglaterra. Esta foi a última incursão dos vikings na Europa, e a Lenda Viking chegava ao fim.

Na antiga escrita, 'víkingr' significa invasor, mas poucos nórdicos participaram das batalhas. Os assaltos eram uma ocupação de meio período praticada por uma pequena porcentagem do povo. Poucos vikings eram profissionais, embora todos estivessem familiarizados com o uso das armas.

Os ataques cessaram porque os tempos mudaram, mas os vikings não foram vencidos e ainda vivem na lembrança do passado. Eles são os noruegueses, dinamarques, faroenses, islandeses e suecos, as pessoas de boa Fé que habitam na Europa!




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