Em 2020, poucos pensavam que um coronavírus seria o impulsionador significativo da história humana. Agora, as pessoas estão começando a entender que as pequenas mudanças que o SARS CoV-2 introduziu na sociedade, como a telemedicina, trabalho remoto, distanciamento social e compras online, começaram a mudar seu modo de vida.
Reconhecendo que a maioria da população rejeitaria uma vacina para um suposto vírus com sintomas que refletem um mero resfriado sem tosse, o estado médico profundo elaborou um plano para vacinar discretamente toda a população sem ter que injetar cada pessoa. As vacinas auto-replicantes tornaram-se a solução para contornar a hesitação vacinal.
As epidemias do passado fornecem pistas sobre como a crise atual pode mudar o rumo da história, ou mesmo alterar profundamente as estruturas preestabelecidas das sociedades. Geralmente, a derrocada das instituições centrais devido às mudanças que levam ao estado de colapso, pode influenciar as disputas pelo poder e alterar as lideranças das nações.
A Peste Antonina (165-190 DC) e sua congênere, a Praga de Cipriano (249-262 DC), provavelmente desencadadas pelas cepas da varíola, devastaram o Império Romano durante um século. Estima-se que as duas pandemias aniquilaram metade da população do Império e que o fato desencadeou uma profunda transformação cultural e religiosa na época.
Antes da infestação da Peste Antonina o Império Romano era pagão, e sua população adorava deidades e espíritos, creditados à natureza, animais e objetos cotidianos, já que todos mantinham seu próprio espírito! O Cristianismo, a religião monoteísta que nada tinha em comum com o paganismo contava com poucos adeptos, apenas 5% da população do Império.
Porém, em uma geração após o término das epidemias, o Cristianismo tornou-se a religião dominante do Império. A causa deste avanço notável reflete-se nos cuidados paliativos básicos dispensados pelos cristãos piedosos, como o fornecimento de comida e água para os pagãos doentes; o que resultava na recuperação dos mais fracos e incapazes de cuidar de si mesmos.
Motivados pela caridade cristã e sua ética do amor ao próximo, as capacitadas e densas redes sociais de caridade, dentre as quais a Igreja primitiva foi organizada no vasto Império, estavam dispostas e eram capazes de fornecer todo tipo de cuidado voluntário. E os cristãos que sobreviveram à praga desenvolveram maior imunidade entre todas as populações.
Quando os pagãos constataram que a maioria dos seus compatriotas cristãos sobreviveram e atribuiram o fato à Deus, muitos foram atraídos pelos cuidados prestados pelas comunidades cristãs e o sistema de crença que sustentavam. A taxa de mortalidade baixa entre os cristãos traduziu-se numa natalidade alta, e o efeito somado tornou o Império Romano majoritariamente cristão.
A Praga de Justiniano, assim nomeada 'em honra' ao imperador que reinou de 527 a 565 DC, assolou o Império Romano desde o ano 542 até desaparecer em 755 DC. Durante seus dois séculos de recorrência, ela exterminou 50% da população; uma média de 70 milhões de pessoas. A dimensão deste fato paralisou a economia e os outrora poderosos militares do Império.
Certamente as pulgas e os roedores foram o vetor da disseminação da doença, denominada de peste bubônica. Na época de Justiniano, o Egito era considerado o celeiro do mundo mediterrâneo, porém esta super oferta de grãos e alimentos exerceu forte influência na proliferação do rato preto egípcio (Rattus rattus) contaminado pelas picadas das pulgas, e seu número atingia níveis dantescos!
Em 541 DC, a pestilência alastrou-se por todo o Egito e alcançou Constantinopla, a capital do Império Bizantino, ceifando 10.000 vidas/dia e levando a população da antiga metrópole à beira da extinção. A partir destes focos primordiais, a peste bubônica causada pela bactéria 'yersinia pestis' espalhou-se pela Europa e o Oriente. Foi considerada a mais letal pandemia da História.
O historiador bizantino Procópio de Cesareia (500-565 DC) forneceu seu relato sobre o início da Peste e a magnitude da infestação:
Nesta época, uma Peste ceifou a vida de mil milhares de pessoas, e a população do mundo foi quase dizimada. A doença teve início entre os egípcios que viviam em Pelúsio, no Baixo Egito, e logo atingiu o porto de Alexandria e o resto da nação. Alcançou a Palestina e as terras vizinhas, invadiu Constantinopla e chegou até Bizâncio. Esta doença nasceu no porto de Alexandria e transferiu-se para as nações interiores.
A Peste castigou Bizâncio quando estava no seu auge. No começo, as pessoas morriam mais do que o habitual, mas a contaminação cresceu e o número de mortos alcançou a média de cinco mil por dia, e logo em seguida dez mil, e depois perdia-se a contagem. O doente manifestava febre e tosse sanguinolenta, e apresentava inchaços púrpura nas axilas e virilha. Estes calombos cresciam maiores do que maçãs ou do tamanho de um ovo.
A doença começou a alterar e colocar manchas de cor totalmente negra nos lívidos doentes. As manchas estavam nos braços, nas pernas e em todos os lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas, em outras eram pequenas e abundantes. Era o indício inevitável da morte, e os doentes morriam em menos de três dias. Os gritos, gemidos e o choro constante de milhares enchiam o ar com a angústia do sofrimento.
A peste era tão contagiosa que passava rapidamente de uma pessoa para outra em sua volta. O cheiro de podridão do líquido que escorria dos calombos perfurados e dos mortos era insuportável. Centenas de corpos apodreciam nas casas e nos locais de recolha. Os cadáveres iam chegando e depois já contavam-se aos milhares. Os corpos eram empilhados como se faz com as mercadorias nas embarcações, organizados, e a maioria era queimada em imensas fogueiras e muitos atirados ao mar.
No leste, o principal rival geopolítico de Roma, o Império Sassânida, também foi devastado pela praga, e não estava em posição de explorar a fraqueza do Império Romano. O Império Sassânida, que sucedeu ao Império Parta, foi reconhecido como uma das principais potências da Ásia Ocidental e Central, e reinou juntamente com o Império Romano-Bizantino por um período de 500 anos.
Porém, as forças muçulmanas do califado Rashidun, lideradas pelo califa Abu Bakr, não desperdiçaram a oportunidade, e suas forças rapidamente conquistaram o Império Sassânida enquanto despojavam o enfraquecido Império Romano dos seus territórios no Levante, Cáucaso, Egito e Norte da África. E o que emergiu desta guerra foi um trio de civilizações disputando poder e influência!
Assim, a Europa medieval foi definida por um distinto sistema econômico. Antes da peste, a economia europeia era baseada na escravidão, mas devido à falta de escravos, os proprietários concederem terras aos trabalhadores, agora nominalmente livres. Estes servos, que trabalhavam nos campos e recebiam proteção do governo, usurparam os direitos legais do feitor.
Uma quarta pandemia, a Peste Negra da Idade Média, aniquilou metade da população europeia; 80 milhões. de pessoas. Antes da chegada da bactéria Yersinia pestis, causadora da peste bubônica de 1347, a Europa Ocidental era uma sociedade feudal superpovoada, e quando a pandemia extinguiu-se no início da década de 1350, um mundo distintamente moderno emergiu; definido pelo trabalho livre e uma classe média crescente.
A Peste Negra criou uma massiva escassez de mão de obra, o que permitiu aos camponeses maior poder de barganha. Na economia agrária, as mudanças encorajaram a adoção generalizada das práticas preexistentes; como o arado de ferro, o sistema de rotação de culturas e a fertilização dos campos que aumentou significativamente a produtividade.
Além do efeito na agricultura, a crise resultou na invenção de dispositivos que economizavam tempo e trabalho; como a impressora, as bombas d'água para drenar minas e as armas de pólvora. Por sua vez, a liberdade das obrigações feudais e o desejo de subir na escala social, encorajou os camponeses a trabalhar nas cidades, como artesãos e comerciantes.
Os bem-sucedidos tornaram-se ricos e constituíram a nova classe média. Agora eles podiam pagar os bens de luxo que só podiam ser obtidos além das fronteiras da Europa, e isto estimulou o comércio de longa distância e a construção das escunas de três mastros; mais eficientes para apoiar qualquer tipo de comércio. A riqueza estimulou as artes, ciência, literatura, filosofia e resultou no Renascimento.
De maneira semelhante, a Covid-19 pode acelerar uma mudança geopolítica em andamento, pois o equilíbrio de poder entre os EUA e a China foi alterado. A combinação do fracasso dos Estados Unidos em liderar o mundo e o sucesso da China em ocupar este espaço, beneficiou sua ascensão na posição de liderança no comunismo global.
A crise atual causou um desdobramento nos padrões e práticas de trabalho estabelecidos, com repercussões que podem afetar o futuro das torres de escritórios, as grandes cidades-mercado e transportes de massa. As implicações econômicas relacionadas podem se provar profundamente transformadoras, como aquelas desencadeadas pela Peste Negra medieval.
Em última análise, as consequências de longo prazo da 'plandemia' atual, como todas as pandemias anteriores, são desconhecidas para os que devem suportá-las. Mas, da mesma forma que as pandemias remodelaram o mundo antigo, talvez a Praga Covid-19 refaça o futuro distópico, agora nas mãos dos nossos netos ou bisnetos. Quem sabe!
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