Uma noite se passou sobre o Sepulcro, onde jaz o corpo do Homem-Deus, Jesus Cristo. A morte é triunfante na caverna silenciosa e mantém cativo Aquele que criou Universos, mas este triunfo logo chegará ao fim. Agora finalmente entendemos que foi pelo pecado que a morte entrou no mundo e contaminou a humanidade.
Os soldados romanos podem vigiar como quiserem a sepultura, pois não poderão manter Jesus Cristo ao chegar o momento esperado da Sua Ressurreição. Os santos anjos guardiões estão perto de Jesus, adorando o corpo aparentemente sem vida, cujo sangue derramado reconciliará todas as pessoas; tanto na Terra quanto no Céu.
Seu corpo, por um breve momento separado da alma está unido ao Filho de Deus, e Sua alma, durante a separação do corpo, não perdeu por um instante a União com o Verbo. A divindade permanece unida ao sangue aspergido no Calvário que, no momento da Ressurreição há de correr mais uma vez em Suas sagradas veias.
Voltemos ao sepulcro e aos fatos que precederam o sofrimento de Jesus. Agora entendemos o que o mal fez: sobrepairou o mundo e afetou a humanidade. Embora Jesus não conheça o pecado, permitiu que a morte tivesse domínio sobre Ele a fim de torná-lo inteligível para nós, e assim, pela Ressurreição, restaurar-nos na Vida Eterna da qual fomos privados pela presença do mal.
E devemos aceitar a morte de nosso querido Jesus com gratidão eterna, visto que ao encarnar tornou-se servo dos homens e Sua morte foi uma humilhação ainda mais profunda. A visão deste túmulo onde jazia o Seu corpo sem vida, nos ensina algo muito mais importante do que o poder da morte, pois revela-nos o imenso e incompreensível Amor de Deus pela humanidade.
Jesus sabia que nos ajudaria com Seu sacrifício, e quanto maiores Suas humilhações maior seria nossa exaltação amorosa. Este era um dos Seus objetivos, mas crucificá-Lo demonstrou o mal e a perdição humana. Nós louvamos Jesus por ter morrido por nós na Cruz e vamos pedir perdão, com muito sentimento, pelo Seu sacrifício.
Voltemos ao passado para visitar Maria, mãe de Jesus, que passou a noite em Jerusalém, repassando na triste memória as cenas que presenciou: Seu Filho sendo vítima de todos os insultos e crueldades possíveis, e que jaz enterrado numa tumba como se fosse apenas um homem comum. Quantas lágrimas caíram durante longas horas dos olhos da filha de Davi, pois seu Filho não voltaria!
Perto de Maria está Madalena com o coração partido pelos acontecimentos, e não tem palavras para expressar sua dor; Jesus se foi para sempre. As outras mulheres, queridas por Ele, mantém-se em volta da mãe desconsolada. Elas enfrentaram todos os insultos e perigos por permanecer no Calvário depois que tudo acabasse, mas pretendem ainda voltar para honrar o corpo de Jesus Cristo.
João, filho adotivo de Maria e discípulo amado de Jesus, está oprimido pela tristeza. Outros apóstolos e discípulos visitam a casa de luto. Pedro, penitente e humilde, não teme comparecer diante da Mãe da Misericórdia. Entre os discípulos estão José de Arimatéia e Nicodemos. Podemos imaginar que a conversa é sobre os sofrimentos e a morte de Jesus e a traição do sinédrio, a assembleia judia de anciãos da classe dominante.
As mulheres estão pensando em sua visita ao sepulcro; a santidade de Jesus, a bondade, Seu poder, os sofrimentos e Sua morte, tudo é lembrado, exceto a Ressurreição, que muitas vezes O ouviram dizer que deveria acontecer certa e rapidamente. Só Maria vive à espera deste último triunfo. Nela se verificava aquela expressão do Espírito Santo, que diz: Mulher, sua lâmpada não se apagará esta noite!
Sua coragem não falha, porque sabe que Deus entregará Seu Filho ressuscitado. São Paulo disse que a religião é vã a menos que tenhamos Fé no mistério da Ressurreição de Jesus. Mas, onde estava essa Fé no dia seguinte à morte de Nosso Senhor? Em um só coração, o de Maria. Desde que Maria foi quem acolheu seu filho Jesus, e por sua fé firme e inabalável, ela resume em si mesma toda a Igreja Cristã.
Quão sagrado é este sábado que, apesar de toda a sua tristeza, é um dia de Glória para a mãe de Jesus! É por isso que a Igreja consagrou à Nossa Senhora o sábado de cada semana. Mas chegou a hora de ir para a casa de Deus, mas os sinos estão silenciosos, porém se nossa Fé comandar e nos tornar ansiosos, vamos assistir aos grandes mistérios porque a liturgia está prestes a celebrar.
Certamente, o sentimento cristão deve estar morto naqueles que podem estar voluntariamente ausentes da sua Igreja em uma manhã como esta. Não, não pode ser que nós, que seguimos a celebração dos mistérios de nossa religião até agora, possamos enfraquecer e perder as graças do magnífico serviço desta manhã. Era prática da Igreja que o sacrifício da Missa não fosse oferecido nem sábado nem domingo.
Ontem, o aniversário da morte de Jesus foi exclusivamente dedicado à lembrança do mistério do Calvário, pois um santo temor impediu a Igreja de renovar aquele sacrifício sobre os seus altares. Pela mesma razão Ela se absteve no domingo da sua celebração. Até a Igreja grega, que nunca jejua nos sábados da Quaresma, segue a prática da Igreja latina: omitindo a celebração da Missa do Pré-Santificado.
O sepultamento de Cristo é uma continuação da Sua Paixão, e durante essas horas em que Seu corpo jazia sem vida no sepulcro, convinha que o sacrifício, no qual Ele é oferecido como o Jesus perfeito e ressuscitado, fosse suspenso. Esta foi a disciplina da Igreja latina por quase mil anos; mas por volta do século XI uma importante mudança começou a ser introduzida em relação à celebração da Missa no Sábado Santo.
A missa que, até então, se celebrava na noite anterior ao domingo de Páscoa passou a ser antecipada; mas sempre foi considerada como a Missa da hora da Ressurreição de Nosso Senhor, e não como a Missa do Sábado Santo. O cisma e os relaxamentos e que haviam sido introduzidos em relação ao jejum, foram motivadores desta mudança na liturgia.
Nos primeiros tempos, os fiéis vigiavam toda a noite na Igreja, esperando a hora em que Nosso Senhor ressurgiria triunfante do sepulcro. Eles também ajudaram na administração solene do batismo aos catecúmenos; que recebem instrução rudimentar nas doutrinas do Cristianismo antes do batismo, e que expressava de forma sublime a passagem da morte espiritual para a vida da Graça.
Não houve outra vigília em todo o ano que fosse observada com tanta solenidade como esta; mas perdeu grande parte de seu interesse quando a necessidade de batizar adultos foi removida do Cristianismo, tendo triunfado onde quer que fosse pregada. Os orientais mantiveram a antiga tradição até hoje mas, no Ocidente, a Missa da Ressurreição foi gradualmente antecipada até a manhã do sábado santo.
No final do século XIII, havia muito poucas Igrejas que observavam o costume primitivo; e mesmo estas logo se conformaram à prática geral da Igreja latina. Como resultado desta mudança há uma aparente contradição entre o mistério do Sábado Santo e o serviço divino que nele se celebra. Jesus ainda está no sepulcro, mas nós celebramos a sua Ressurreição. Agora, as horas que precedem a missa são tristes!
Vamos esta manhã visitar o túmulo onde jaz o nosso Jesus sepultado; adoramos aquele corpo sagrado que Madalena e suas companheiras se preparam para honrar, ungindo-o de manhã cedo. Mas, voltemos ao sepulcro onde repousa o corpo do nosso Jesus crucificado. Voltemos para lá em pensamento, pois a hora de Sua Ressurreição ainda não chegou.
Dediquemos alguns momentos a meditar sobre o mistério dos três dias, durante os quais a alma do nosso Redentor se separou do seu corpo. Agora ofereçamos o tributo de nossa profunda adoração à alma de nosso divino mestre. Não é no sepulcro, onde está o Seu corpo, vamos segui-Lo até ao lugar onde esteve durante estas horas de separação.
No centro da Terra existem quatro regiões imensas, nas quais nenhum vivente jamais entrou, e somente por revelação divina é que sabemos de sua existência. O mais distante de nós é o inferno dos condenados, a terrível morada de satanás e seus anjos caídos, e dos réprobos que sofrem tormentos eternos. É aqui que o conciliábulo das trevas está sempre armando suas tramas contra Deus e o homem.
Mais perto de nós, está o limbo onde estão detidas as almas das crianças que partiram deste mundo antes de serem batizadas. A opinião mais favorecida dos mestres da Igreja é que essas almas não sofrem nenhum tormento, embora não desfrutaem da visão beatífica que será restaurada. Agora estão desfrutando de uma felicidade natural, companheirismo e atendimento proporcional aos seus desejos.
Acima da morada destas crianças está o lugar da expiação, onde as almas que partiram desta vida em estado de graça se purificam de quaisquer manchas de pecados menores, ou pagam apenas uma dívida da pena temporal, ainda devida à justiça divina. E por último, está o limbo onde estão alinhados ao Céu os santos que morreram sob a Antiga Lei, assim como os santos que estavam intimamente ligados a Jesus.
Mas agora que o portão do céu foi aberto pelo sangue do Redentor, todos os justos já devem estar lá. Alguns, por mais santos que tenham sido durante a vida, devem descer ao limbo após a morte. Encontramos inúmeras passagens onde é feita menção à porção de regiões no centro da Terra, que chamamos de limbo, como sendo a morada dos servos de Deus. O Céu é mencionado como a morada dos homens por Jesus Cristo.
O limbo do justo não é um tormento, além de alguma espera e convívio amigável. As almas que lá habitam estão confirmadas na Graça e seguras de participarem, em algum momento, da felicidade eterna. Suportam resignadamente este banimento como uma consequência do pecado, mas ao saberem que se aproxima o tempo da libertação, sua alegria vai além de tudo que podemos imaginar.
O Filho de Deus se sujeitou a tudo, exceto o pecado, que a nossa natureza humana carrega ou ainda vai sofrer. Foi pela Sua Ressurreição que Jesus triunfou, e somente pela Sua ascensão foram abertas as portas do Céu. Sua alma imortal foi separada do corpo pela morte e desceu às profundezas da Terra para tornar-se redentora e acalentar o lugar reservado aos santos e bem-aventurados que ali aguardam.
Jesus havia dito de Si mesmo: O Filho do Homem estará no coração da Terra três dias e três noites. E podemos imaginar qual deve ter sido a alegria destes incontáveis santos, e quão majestosa não deve ter sido a entrada de Nosso Senhor em sua morada provisória! Assim que Jesus Cristo deu seu último suspiro na Cruz, o limbo dos santos foi iluminado pelo fulgor dos anjos e sua resplandecência celestial.
A alma do Redentor, unida à divindade do Verbo, desceu até o local e o transformou de um lugar de desterro para um verdadeiro paraíso. Chegou a hora feliz, tão esperada por esses santos! Que língua poderia contar sua alegria, sua admiração e seu amor, ao contemplarem a alma de Jesus entre eles, que veio para compartilhar e encerrar seu exílio!
Jesus Cristo olha complacentemente para este número incontável de eleitos, fruto de quatro mil anos da Sua Graça e a porção maior da Sua Igreja comprada com sacrifício; à qual os méritos de Jesus Cristo foram aplicados pelo amor e misericórdia de Seu Pai Eterno, mesmo antes do Seu sangue ser derramado no Calvário!
Nós, que esperamos em nossa partida deste mundo ascender a Ele, que foi preparar um lugar para nós no Céu, vamos felicitar com alegria esses nossos santos ancestrais. Adoremos a condescendência de Jesus, que se dignou a passar estes três dias no coração da Terra, para que pudesse santificar as condições morais da natureza humana e tomar sobre Si um estado transitório do homem.
Mas, o Filho de Deus também visitou as regiões abaixo da Terra para manifestar Seu poder soberano. Seu espírito, é claro, não desceu ao inferno de satanás, mas ele sentiu o poder de Jesus por perto. O príncipe das trevas foi forçado a dobrar os joelhos e se humilhar andando de quatro. Satanás, que instigou os judeus a crucificar Jesus, agora reconhece o Filho de Deus. A morte foi vencida e o mal apagado!
Entretanto, não é para o seio de Abraão, mas sim para o próprio Céu, que as almas dos justos ascenderão, juntamente com os anjos fiéis e Jesus Cristo, Deus se preferir. O reinado da idolatria chegará ao fim! Os altares, onde os homens ofertaram à satanás, serão destruídos pelo seu adversário divino. A cruz que judeus prepararam com exultação foi sua derrota, ou seja: a isca lançada ao leviatã que mordeu e tomou-a!
A alma de Jesus Cristo faz sentir a Sua presença também pelos justos que habitam na morada da expiação, e misericordiosamente alivia seus sofrimentos e abrevia seu purgatório. Muitos deles são totalmente libertados e considerados como os santos do limbo, onde passam os quarenta dias, entre esta permanência e a ascensão, na feliz expectativa de ascender ao céu com Jesus.
Não é contrário aos princípios da Fé supor, como vários teólogos eruditos têm ensinado, que a visita de Jesus ao limbo foi uma fonte de bênção e consolo para a morada de crianças não regeneradas, e que então receberam a promessa que chegaria o tempo em que elas deveriam ser reunidas a seus corpos e colocados em um local mais feliz do que aquela em que a justiça divina agora os mantém.
A Ressurreição de Jesus é o manifesto da imortalidade da alma humana e o ponto crucial da vida espiritual. Compensa viver sob a perspectiva de que a essência humana subsistirá após a morte do corpo, não importando o custo dos sofrimentos envolvidos neste caminho para a Eternidade. Sem esta esperança oferecida por Jesus a vida dos cristãos não teria muito sentido, mesmo com todos os triunfos e alegrias que compartilhamos.
Jesus foi ao encontro da Sua Paixão e Morte com plena consciência da missão que devia realizar, e Seu sofrimento permitiu que a humanidade merecesse a Vida Eterna. Foi precisamente por meio do sacrifício que Jesus atingiu as raízes do mal que se embrenhavam nas almas humanas. Sua obra, o desígnio de Deus, teve um caráter redentor para o Homem.
Que a atitude de vocês seja a mesma de Jesus, que embora fosse Deus não considerou que devia apegar-se; esvaziou-se do orgulho tornando-se semelhante aos homens da Terra. E tendo mantido a forma humana, humilhou-se e sofreu terrivelmente, mas sempre foi obediente ao Pai até a morte na Cruz.
Poucos entenderam Jesus, pois se tivessem entendido não teriam crucificado o Senhor da Glória. Todavia, como está escrito, olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que O amam. Mas Deus revelou a nós por meio do Espírito Santo, o qual sabe todas as coisas até às profundezas do Divino.
Jesus Cristo é a personificação da hipóstase, a união da natureza divina e humana na mesma pessoa, verdadeira e plenamente um Deus e simultanea e verdadeiramente um Homem. Quando os romanos e os edomitas-talmúdicos torturaram e assassinaram Jesus Cristo, eles sabiam que matavam o Deus dos cristãos. E quando Jesus ressuscitou, foi o Deus Único que ressuscitou para oferecer a nossa Salvação. Atualmente, a Páscoa representa para os cristãos uma época de esperança e amor para a humanidade!
Que Deus os abençoe nesta Páscoa, e para sempre!
2 comentários:
Thanks...Feliz Páscoa!
Chorei ao ler este relato...Magda.
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