08 janeiro 2024

PSICANALISANDO FREUD - PSYCHOANALYZING FREUD


Freud inicia discutindo a idéia de que Moisés era egípcio. O nome viria do termo egípcio mose, menino. Ptah-mose, por exemplo, significa o menino ou o filho de Ptah. Tal idéia estava longe de ser nova, pois já tinha sido aventada por historiadores da antiguidade, como Estrabão e Celso, e por historiadores bíblicos como John Tolland; Schiller e Max Weber, isto sem falar nas alusões ao tema presentes na obra de Otto Rank e Karl Abraham.

Sua verdadeira suposição é que o monoteísmo dos hebreus seria uma religião egípcia, mas como se processou tal informação? Freud, em seu estudo 'Totem e Tabu', descreve uma horda primitiva matando o pai, devorando-o e mais tarde cultuando-o. Mas em 'Moisés e o Monoteísmo' Freud introduz os judeus na servidão do culto monoteísta e intolerante de Aton, nome semelhante à Adonai, Deus em hebraico, que Freud não deixa passar do tema.

Moisés conduz o povo para fora do Egito mas é assassinado, uma idéia que Freud tomou do erudito Ernst Sellin. Assim, o povo judeu passa a adorar Jeová, na época uma cruel e vingativa divindade do deserto, até que um novo profeta assumindo o nome Moisés os introduz a uma religião também monoteísta, mas baseada em princípios morais. O livro 'Moisés e o Monoteísmo' de Freud foi mal recebido nos círculos judaicos, fossem religiosos ou não.

Em nota de rodapé num artigo sobre Moisés e o Monoteísmo, o filósofo Martin Buber rotulou o livro de Freud como um escrito não-científico baseado em hipóteses infundadas, e nos círculos cristãos a rejeição não foi menor. O diagnóstico de auto-comiseração foi muitas vezes aplicado a Freud. Tal como descreve Sander Gilman, o auto-ódio surge em grupos marginais quando as pessoas aceitam os estereótipos criados pela cultura de referência.

PSICANALISANDO FREUD

Esta cultura emite uma dupla mensagem, pois em parte ela é liberal: 'Torna-te igual a mim e eu te aceitarei', e uma maldição conservadora: 'Quanto mais tentares te tornar igual a mim, mais me convencerás do meu poder'. Mas esse poder que queres partilhar mais te caracteriza como um impostor. A pessoa discriminada tenta reprimir o conflito racionalizando-o: 'O problema deve estar comigo, porque aquilo que estou tentando tornar-me é perfeito, sem falhas'.

'Mas talvez eu seja mesmo diferente, uma paródia daquilo que quero ser', acrescenta. Será então que Freud, um judeu, é um caso clássico de auto-ódio? É pouco provável, pois com sua capacidade intelectual de introspecção, Freud teria detectado este sentimento em si próprio elaborando-o devidamente. E ainda que tenha rejeitado os aspectos do judaísmo, Freud foi capaz de lidar com isso de maneira criativa, pois a análise não se restringiu ao judaísmo, foi mais além!

O assassinato de Moisés só veio aumentar o fardo da culpa ancestral carregada pelos judeus que começa com a noção do pecado original. Esta culpa, porém, ultrapassou os limites grupais, pois ela se apoderou de todos os povos do Mediterrâneo como um vago mal-estar e uma premonição cataclísmica. Mas foi o judaísmo que proporcionou uma válvula de escape a esta opressiva situação dúbia', afirmou Freud com reticência.

Paulo de Tarso, o apóstolo Paulo, deu-se conta de que o sacrifício de Jesus representaria a oportunidade para uma expiação coletiva da culpa pela Fé, e surgia assim o Cristianismo. 'Só uma parte do povo judeu aceitou a Nova Doutrina', filosofa Freud. Mas este estudo Freud não fez, e está claro que ele via na atitude do judaísmo uma conduta neurótica e obsessiva. E questionava: 'Por que não participar na expiação coletiva da culpa e se isolar?'


Talvez tenha faltado aí um estudo especial que preenchesse esta lacuna, uma interpretação histórica sobre o papel do judaísmo como grupo marginal em várias sociedades. Em 'Moisés e o Monoteismo' Freud está voltando ao ponto de partida. Agora o observamos como um cientista entregue às suas pesquisas, depois como um investigador da psicologia humana e um terapeuta médico, mais adiante como um filósofo da mente e da cultura.

Assim o temos reescrevendo a Bíblia como os escritores bíblicos, em parte os fatos históricos da imaginação. Ele refaz toda a história do relacionamento entre o judaísmo e a medicina, cujas etapas estão visíveis na sua vasta obra. Freud era um entusiasta da chamada 'Lei da Recapitulação', uma lei biogenética fundamental do naturalista Ernst Heinrich Haeckel; para a psicanálise freudiana restou o exemplo da desarmonia entre os judeus e a humanidade.

Diz a referida lei que, no curso de seu desenvolvimento, um animal passa por estágios comparáveis às formas dos seus ancestrais na evolução, ou seja: a ontogenia recapitula a filogenia. Embora a tal lei tenha sido contestada por causa das suas implicações, quando certos humanos estariam mais atrás na escala da evolução, ela bem poderia funcionar para a trajetória de Freud como uma metáfora surgida na evolução do pensamento judaico.

Dizendo-se um incrédulo, o judeu sem Deus, Freud era um acirrado crítico da religião. Ateu convicto, ele estimava que o ser humano perde mais do que ganha com o que ela propõe. Em seu primeiro escrito sobre a religião, 'Atos Obsessivos e Exercícios Religiosos', publicado em 1907, ele explica que o cerimonial litúrgico envolve necessariamente atos obsessivos. Ele compara o efeito da religião na psique humana com o dos narcóticos.

PSICANALISANDO FREUD

Freud situa sua tese na linhagem do judeu Karl Marx, que poderia afirmar não apenas que era o ópio do povo, mas também que a religião é apenas o sol ilusório que gravita em torno do homem enquanto o homem não gira ao redor de si mesmo. Marx, Nietzsche e Freud são mestres da suspeição, na medida em que têm em comum ter caluniado a religião cristã como uma ilusão religiosa. Freud admitiu que as bases desta hipótese histórica eram inexistentes!

Antes da Revolução de 1917, a Rússia era o país onde Freud foi mais traduzido. Após a tomada do poder pelos bolcheviques, estes criaram conexões entre o pensamento de Freud e Marx. No entanto, posteriormente, quando Trotsky, que era muito favorável à psicanálise, foi condenado ao exílio em 1927, a psicanálise foi associada ao trotskismo foi oficialmente proibida depois de ter sido aceita como um importante 'freudo-marxismo'.

Em 1949, Guy Leclerc publicou no semanário L'Humanité o artigo: 'La Psychanalyse, Idéologie de Basse Police et D'espionnage', no qual considerava a psicanálise uma ciência burguesa destinada a escravizar multidões. A partir deste fato, depois de ter considerado sua importância no freudo-marxismo, o Partido Comunista Francês iniciou uma campanha contra a psicanálise pois Freud prestava um péssimo serviço com suas fantásticas pseudoexplicações.

Os críticos de Freud em seu tempo e até hoje, na verdade questionam a cientificidade da sua abordagem e a metodologia tacanha, em particular pelo pequeno número de casos, e na sua interpretação literária o aspecto altamente especulativo. Também preocupa sua inconsistência teórica com a ausência da validação experimental dos estudos clínicos rigorosos controlados e reproduzíveis, somados à manipulação de dados nos resultados terapêuticos.

PSICANALISANDO FREUD

Freud sofria com um câncer na laringe pois chegava a fumar mais de 20 charutos por dia. Ao longo dos anos, passou por várias cirurgias para retirar tumores que tomavam conta da sua boca. Apesar disso, ele nunca parou de fumar o precioso tabaco. Talvez sua fala enrolada, claramente audível no vídeo abaixo, seja o resultado do câncer que o acometia. Morreu em Londres no dia 23 de setembro de 1939, aos 83 anos.


2 comentários:

Anônimo disse...

Freud não explica às vezes!

Anônimo disse...

Freud era muito doidão e só falava (inventava) besteira.