Nos primeiros sĂ©culos do Cristianismo considerava-se que a teologia tinha de ser fruto de uma profunda convicção intelectual e, acima de tudo, de intensa experiĂȘncia pessoal. ApĂłs a ruptura da experiĂȘncia religiosa e do misticismo com a Igreja, seguiu-se o aparecimento do modelo escolĂĄstico de TomĂĄs de Aquino. Assim, a teologia sofreu uma grande fragmentação.
A Igreja separou-se da teologia primitiva, seguindo por caminhos diferentes, originando a teologia dogmåtica e suas convençÔes, a teologia moral e a teologia ascética.
O resultado disso foi um distanciamento entre o teĂłlogo, especializado no exame do pensamento CristĂŁo, e o indivĂduo jĂĄ espiritualizado que estava tentando viver profundamente os ensinamentos de Jesus Cristo no seu cotidiano.
Por exemplo, o conceito de existĂȘncia do limbo. O limbo foi a conclusĂŁo teolĂłgica de Santo Agostinho, que considerava o pecado original um pecado transmitido a cada indivĂduo durante a concepção. Por isso, toda a humanidade era uma massa amaldiçoada.
As crianças que morressem sem Batismo não iriam para o Céu devido ao pecado original, mas também não poderiam ir para o inferno. Então, inventou-se o limbo, um estado intermediårio que provocou tremenda tristeza aos pais cujos filhos morriam antes do Batismo.
A noção absurda do limbo insinuou-se na mentalidade Católica e nos textos teológicos, passando a ser considerada uma doutrina, quando na verdade era somente uma ideia sem fundamento.
Para Agostinho, até o ato sexual para conceber uma criança era pecaminoso, contrariando a palavra de Deus: "Crescei e multiplicai-vos". Essa visão prevaleceu devido à importùncia de Agostinho na teologia Católica.
Desta forma, devemos pensar na questĂŁo da liberdade, pois a liberdade e a responsabilidade caminham juntas. A noção polĂtica de liberdade, do velho paradigma clĂĄssico, contrasta surpreendentemente com a noção de liberdade nos Evangelhos.
A polĂtica permite que se passe por cima dos outros, enquanto o Evangelho diz: "A si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de um servo", e JoĂŁo Batista acrescenta: "Ele deve crescer, enquanto que eu devo diminuir".
Também afirmou Jesus: "Aquele que quiser ser o maior, que se faça o menor". Num universo totalmente inter-relacionado, o crescimento de qualquer um implica no crescimento dos demais, e não ao contrårio como o homem sempre fez.
NĂłs temos a capacidade e a liberdade de formar conceitos, mas nĂŁo de os escolher e, conforme o modo como utilizamos essa capacidade, somos levados a conflitos pois nossos conceitos nĂŁo vĂȘm da fonte Divina. Esta sĂł Ă© alcançada na experiĂȘncia espiritual.
Deus nĂŁo estĂĄ lĂĄ em cima e o Universo aqui em baixo. Assim, toda resposta Ă s dĂșvidas que temos sobre Deus tem que ser encontrada na nossa prĂłpria experiĂȘncia, dentro de nĂłs, e nĂŁo nas palavras de outrem.
A experiĂȘncia de Deus estĂĄ alĂ©m do conhecimento, da imaginação, do raciocĂnio, do intelecto e do ego, e transcende todos os nossos conceitos, atĂ© mesmo o conceito da transcendĂȘncia e tudo mais que se possa falar a respeito da mesma.
O silĂȘncio e a reflexĂŁo Ă© a postura adequada para vivenciarmos esta relação com o Criador. Para a Teologia, mesmo no velho paradigma, a Criação ainda Ă© um processo em andamento, e se nĂŁo fosse assim toda a existĂȘncia entraria em colapso.
A teologia utiliza modelos e metåforas para se aprofundar em um tema. As metåforas apontam para a verdade final, mas não são a verdade real. Tudo que é dito e pensado a respeito de Deus é por analogia. Hå uma diferença infinita entre a realidade Divina e o que pensamos a Seu respeito.
Dizer que Deus criou os seres humanos Ă Sua imagem, como cita o Evangelho: "macho e fĂȘmea Deus os fez", implica no fato de que a imagem de Deus Ă© um par e nĂŁo um indivĂduo. No entanto, toda a hierarquia CatĂłlica consiste de homens. Ă injusto, na Igreja e na tradição CristĂŁ, manter a mulher numa posição de inferioridade.
Jesus Cristo fez inimigos ao tratar as mulheres em igualdade aos homens, o que não era aceito na sociedade da época, o mesmo preconceito que ainda ocorre hoje em muitas sociedades e culturas.
Em que sentido achamos que somos criados Ă imagem de Deus se nĂŁo sabemos como Ă© a imagem de Deus! Se desejamos amar a Deus devemos nos voltar para o humano e para toda a Criação, pois tudo tem o "sopro" Divino. Mas o verdadeiro amor, assim como as verdadeiras virtudes, sĂł alcançamos com a experiĂȘncia religiosa.
Nas experiĂȘncias religiosas sentimos que "tocamos" a Divindade, achamos atĂ© que o nosso verdadeiro eu Ă© o prĂłprio Deus. Isso Ă© ser criado Ă imagem e Ă semelhança de Deus. Isso nos foi dado por Ele atravĂ©s da nossa prĂłpria existĂȘncia, sendo uma realidade que podemos desvendar se nos dirigirmos Ă s profundezas do nosso ser. Nossa vida tem como inĂcio e fim a "Vida" em Deus e no Reino de Deus Ă© como terminarĂĄ.


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