O termo abominável era usado no Antigo Testamento para descrever "tudo que é ofensivo a Deus". Lemos em Daniel que a abominação da desolação era tão ofensiva a Deus que a sua presença no Templo fazia com que Ele se afastasse, deixando o santuário desolado. As traduções do antigo hebraico para "abominação" são normalmente associadas a qualquer idolatria ou desvio sexual.
A palavra igreja, ou "edah", na forma hebraica, e "ekklesia", em grego, carregava um significado mais amplo. Referia-se a uma assembléia, congregação ou associação de pessoas reunidas para compartilharem as mesmas lealdades. Assim, o termo não era necessariamente restrito às associações religiosas, pois em Atenas, os gregos usavam o termo "ekklesia" para denominar a assembléia legislativa do governo.
O termo "ekklesia" é formado pela expressão "chamada para fora", e referia-se aos cidadãos que anunciavam os chamados ou convocações para as reuniões públicas. Como consequência direta, as palavras igreja e católica (universal em grego) acabaram por representar o corpo de indivíduos reunidos para honrar a Deus.
A Revelação do apóstolo João no Apocalipse aborda o conceito incompreendido da grande e abominável igreja de satanás — um simulacro da Igreja Católica — que introduz ideologias apóstatas aos homens para contaminar as Escrituras. A palavra apostasia significa, no grego original, rebelião ou revolução.
Este artifício satânico objetivava destronar Deus da Sua Igreja, substituindo-O pelo ser humano, ao negar o princípio da Revelação e transformar o pensamento humano em princípios religiosos. Como um produto da mente humana, estes novos credos foram considerados uma abominação ao Senhor, uma idolatria. Os homens idolatram suas criações, aquelas que surgem nas suas mentes!
O nome da abominável igreja do Apocalipse é Babilônia. Uma leitura literal do Livro do Apocalipse pode dar a impressão que o apóstolo João refere-se a alguma cidade em particular. No entanto, quando lemos nas entrelinhas, descobrimos que a Babilônia não é uma cidade real, mas sim, a emulação da antiga Jerusalém, onde viverão os ímpios sem coração.
Observando as características da Babilônia pode-se distingui-la da besta do Apocalipse, pois não representam as mesmas coisas, embora a besta dê suporte à abominável igreja. No Apocalipse, a falsa igreja é representada como uma mulher imoral, ressaltada pela sua natureza maligna. Ela é espiritualmente infiel e representa a imoralidade sexual e a idolatria — as abominações gêmeas do Antigo Testamento.
Esta mulher é a "mãe das abominações"! Ela aparece no Apocalipse como o símbolo da mulher sem virtude, representando uma falsa religião. A Babilônia descrita no Apocalipse é a mulher vestida de púrpura e escarlate, a contraparte satânica da "mulher virtuosa" que simboliza a Igreja de Cristo.
Os animais e a imagem da besta com chifres representam outros aspectos do reino do mal. Satanás, representado pelo dragão, está por trás da besta e da prostituta, entidades separadas e com funções distintas no império do mal. As visões apocalípticas são altamente simbólicas, e os profetas interpretaram suas visões pela perspectiva religiosa, onde o passado e o futuro constantemente se entrelaçam.
O tempo deixa de ser um elemento lógico, uma razão para a cronologia do Apocalipse às vezes parecer confusa. Na literatura apocalíptica, o elenco de personagens é constante, pois há apenas um "roteiro" desde a fundação do mundo até o seu fim, onde os papéis e as linhas do drama são sempre os mesmos.
A literatura apocalíptica é dualista, e uma vez que versa sobre personagens caracterizados, tudo se resume a princípios opostos: amor e ódio, bem e mal, luz e escuridão — não há zonas neutras nos escritos apocalípticos. Neste sentido, existem apenas duas categorias no âmbito da religião: os que vão se salvar e os condenados, a Igreja de Deus e a da abominação.
Aquele que não pertence à Igreja faz parte daquela que é a mãe das abominações, a prostituta de toda a Terra: "Eis aqui a formação de uma igreja que é mais abominável que todas as outras igrejas, que torturou e matou os Santos de Deus, e deleitava-se com ouro e sedas, e tirou muitas partes do Evangelho de Cristo".
Podemos identificar o período da helenização como a época histórica que favoreceu a implementação da abominável igreja. A helenização é um fenômeno que os estudiosos da História referem-se como a imposição da cultura e filosofia grega sobre a cultura do Oriente.
O resultado foi uma síntese do Oriente com o Ocidente, um caldeirão de multiculturalismo que atravancou o mundo pós-helenista. No reino da religião, no entanto, a síntese significava um compromisso, e nos termos do Evangelho, este compromisso com o paganismo significava a apostasia.
Quando o Cristianismo e a cultura grega encontraram-se frente a frente, uma grande batalha de crenças e estilos de vida surgiu, e a concepção do mundo grego sobrepujou o Cristianismo — revisto para tornar-se mais atraente e apelativo para o público grego!
O preconceito primário do povo grego era natureza absoluta de Deus: a certeza de que Ele não poderia ser limitado por qualquer coisa ou alguém. A fim de satisfazer aqueles cristãos já mergulhados na filosofia grega, o Cristianismo teve que fazer concessões e dispensar os dogmas do Deus antropomórfico e da ressurreição dos mortos, ou mesmo reinterpretá-los drasticamente.
Negar ou alterar a doutrina da ressurreição foi precisamente o que alguns cristãos gregos em Corinto fizeram, quando o apóstolo Paulo repreendeu-lhes com rispidez, relacionando a apostasia com a obra de satanás e a criação da religião falsa.
Em Tessalonicenses, Paulo relata: "Esse dia não virá sem que antes venha a apostasia e o homem do pecado será revelado, o filho da perdição. O homem do pecado vai sentar-se no Templo de Deus para mostrar-se que ele é Deus". O mistério da iniquidade já estava em andamento como Paulo escreveu estas palavras proféticas. O filho da perdição e homem do pecado é lúcifer, pois é a falsificação do "Homem de Santidade". O Templo em que ele se senta é a Igreja, agora desolada e desprovida da presença Divina pela abominação da apostasia.
No período histórico entre a fundação da Igreja por Pedro, até a época do imperador romano Constantino, existiram várias Igrejas e denominações Cristãs. A Igreja Ortodoxa e as congregações cristãs dos ebionitas, as igrejas sírias e egípcias, os donatistas, os gnósticos e marcionitas, entre outros, já existiam na época da circulação do Novo Testamento.
O cristianismo híbrido do século IV foi o resultado e o produto final da apostasia que iniciou-se no segundo século, através dos diferentes movimentos cristãos que adotaram a filosofia grega como regra — quando os gnósticos aprofundaram-se nos mistérios e nas práticas indizíveis, fortalecendo o ascetismo inclemente.
Finalmente, os compiladores do século II d.C., como Taciano e Marcião reescreveram as Escrituras, a definitiva ousadia para obliterar qualquer coisa de que não gostassem. E assim, eles desterraram a "mulher virtuosa", a verdadeira Igreja de Jesus, para o deserto da desolação, abrindo o caminho para a Babilônia, a igreja abominável.
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